20 de junho de 2011

PÁGINAS FRANCISCANAS

FRANCISCO, APAIXONADO
PELO ABSOLUTO

Francisco de Assis, ao longo de toda sua vida, foi alguém que buscou apaixonadamente o Absoluto. Esta é uma das características de seu temperamento. Depois de sua conversão será também marca de seu jeito espiritual de ser. Alguém que escapa da mesmice e da mediocridade. Esta página poderá muito bem ser um texto para ser colocado nas mãos de eventuais vocacionados franciscanos.

Um temperamento humano orientado para o absoluto

Múltiplas são as situações evocadas por seus biógrafos que revelam como Francisco de Assis era, por natureza, uma apaixonado. Não queria fazer as coisas pela metade. Particularmente significativo a esse respeito foi o seu comportamento por ocasião de uma peregrinação que fez a Roma, nos primeiros anos de sua conversão (Três Companheiros 10). Diante da falta de generosidade dos que visitavam o túmulo de São Pedro, ele se revolta e, num gesto teatral que podemos bem visualizar, atira na direção dos mendigos punhados de moedas que tira de sua bolsa. Depois, saindo da igreja, troca suas roupas com as de um pobre e coloca-se a mendigar em seu lugar para experimentar a gama de sentimentos que podiam existir no coração daquele que nada tem: humilhação aos olhos dos homens, ação de graças pela generosidade providencial de Deus.

Em outros lugares, seus biógrafos, quando uma ocasião se apresenta, se comprazem com gosto em chamar atenção para a radicalidade de suas decisões. Assim lemos em Tomás de Celano (1Celano 17). Francisco ficou com remorsos de não ter dado esmola a um pobre e fez o propósito, dai em diante, “na medida do possível não negar alguma coisa a quem lhe pedisse por amor de Deus. E isto ele fez e cumpriu com maior diligência até oferecer-se totalmente a si mesmo de todos os modos tornando-se antes cumpridor do que ensinador do conselho evangélico”.

Com um tal temperamento numerosas foram as ocasiões em que exprimiu seu voluntarismo tanto no plano espiritual quando no plano humano. Duas realidades de vida constituem os traços maiores desta busca incessante do absoluto: o retiro e a itinerância peregrinante.

Experiência primordial do retiro

As origens de sua vocação, lembramo-nos bem, estão ligadas à voz que havia feito com que ele se detivesse na estrada de Espoleto, ordenando que voltasse a Assis: “Lá eu te mostrarei o que tens a fazer”. Depois deste acontecimento emocionante, durante longos meses, dirigiu-se para cavernas e lugares retirados “ para tomar distância pouco a pouco do tumulto do mundo”, procurando saber a vontade de Deus. “Procurava guardar em seu interior a Jesus Cristo e quase todos os dias ia frequente e secretamente fazer orações. Sentia-se atraído pela doçura que experimentava e que penetrando em sua alma, mesmo nas praças e outros lugares públicos, o impelia à oração” (Três Companheiros, 8).

Esta forte experiência da doçura de Deus, longe do mundo, está em conexão com a experiência fundamental da escolha eremítica porque é no silêncio, mais precisamente no íntimo de si mesmo, que Deus se revela na figura d’Aquele à imagem e semelhança de quem fomos feito, o Cristo (cf. Admoestação 5). Não vale a pena consagrar a tal bem todos os nossos bens? Não somente os bens materiais (Francisco renuncia á herança), mas ainda aos bens relacionais (rompe com seu pai) chegando à renúncia de si mesmo (enfrenta deboches e a desaprovação de todos que pensam ter ele ficado maluco, mas ignorando que ele assim agia por identificação amorosa com o crucificado, numa loucura de amor). Três aspectos da pobreza, três renúncias que Francisco evoca explicitamente no começo de sua Regra (1Regra 1).

A itinerância

Graças ao episódio subsequente ocorrido na festa de São Matias, sabemos que Francisco tinha optado pelo habitus de eremita (quer dizer, tanto o hábito-roupa quanto os hábitos de vida) e que, no momento em que ouviu ao evangelho do envio dos 72 discípulos, dizendo “É isso que quero viver” ele se conformou à palavra evocada optando por um outro habitus fazendo dele um eremita pregador.

Lembramo-nos como, depois, voltando de Roma com seus primeiros companheiros, conseguindo aprovação do Papa para seu gênero de vida, os irmãos se puseram a mesma questão: viver no ermo ou ir pelas estradas e pregar? Esta questão ficará sempre ardente ao longo de sua vida. Um dia, não aguentando mais, enviou a Clara, a contemplativa, e a frei Silvestre, o primeiro sacerdote do grupo, alguns irmãos para que os dois o ajudassem a esclarecer a escolha que deveria fazer. Recebeu a inequívoca resposta de que deveria partir em pregação da Boa Nova.

A acreditar no testemunho deixado pela existência de um grande número de conventinhos, que em razão de sua colocação, eram eremitérios, fica claro que Francisco levava os dois tipos de vida: nos eremitérios e na pregação. Segundo os cálculos feitos por alguns historiadores, Francisco passava 200 dias por ano retirado nesses lugares de silêncio. A outra parte do tempo, estava nas estradas, servindo-se de todas as ocasiões que apareciam para pregar, como aliás, era costume de muitos eremitas dos séculos XI e XII. Alguns se tornaram muito conhecidos como Roberto de Abrissel e seus companheiros.

François, un chercheur passioné de l’absolu
Jean-Baptiste Auberger, OFM
in Évangile d’aujourd’hui, n. 178, 1998, p.25-27

Perguntas para reflexão com jovens e vocacionados

1.
As poucas linhas do texto acima falam de um Francisco apaixonado. Dá para captar essa dimensão no texto?
2. Será que jovens que querem ser franciscanos experimentam um apelo ao eremitério?
3. Como os jovens que optam pelo caminho da vida franciscana consagrada imaginam sua vida de missionários?

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