16 de janeiro de 2015

16/01 - Santos protomártires da Ordem Franciscana - Santos Berardo, Pedro, Acursio, Adjuto e Oton



Santos protomártires da Ordem Franciscana

Memória litúrgica: 16 de janeiro

Mártires  (+1220). Canonizados por Sixto IV em 7 de agosto de 1481.


Assim como a Igreja universal e as Igrejas particulares sempre manifestaram especialíssima devoção por seus protomártires, da mesma forma a Ordem dos Frades Menores festeja seus confrades que, por primeiro, verteram o sangue em testemunho da fé cristã. Estes constituem os primeiros missionários enviados por São Francisco na terra dos sarracenos . 

São eles Berardo de Leopardi da Carbio, perto de Narni, Acúrcio Vacuzio e Adjuto da diocese de Narni, Pedro de Bonanti de Sangemini e Otão de Petricchi de Stroncone.

Depois de duas tentativas malsucedidas de partir para a Síria e Marrocos, Francisco continuou a alimentar o desejo de conseguir a coroa do martírio. Uma vez que a Ordem estava organizada em Províncias (1217), procurou enviar missionários a todas as nações européias. No famoso Capítulo Geral das Esteiras, celebrado na Porciúncula em Pentecostes de 1219, deu licença aos frades Otão sacedote, Berardo sub-diácono, Vital, Pedro, Acúrcio e Adjuto de pregarem o Evangelho aos sarracenos do Marrocos, enquanto ele se dirigiria com os cruzados à Palestina para visitar os Lugares Santos e converter os infiéis do lugar, mesmo ignorando sua língua.

Depois de terem recebido a bênção do Fundador, os seis missionários se dirigiram à Espanha, a pé. Quando chegaram ao Reino de Aragão, Frei Vital, o superior da expedição, cai doente e deve se afastar da empreitada, o que não impediu que os outros cinco continuassem o caminho sob a direção de Berardo.

Em Coimbra, Portugal, a rainha Urraca, mulher de Afonso II, os recebeu em audiência. Descansaram uns dias em Alenquer, onde os frades já tinham uma casa. Ali foram tratados com atenções especiais por parte da infanta Sancha, que lhes deu trajes civis que facilitassem a atividade juntos aos muçulmanos.

Dirigiram-se, então, à suntuosa cidade de Sevilha, capital do reino árabe do mesmo nome. Imprudentes, segundo nosso modo de ver, dirigiram-se eles à mesquita e começaram a pregar o Evangelho contra o islamismo. Evidentemente que foram tidos como loucos e mal tratados. Estes, no entanto, não desanimaram e se dirigiram ao palácio do rei e pediram para falar com ele. O monarca os ouviu de má vontade. Ouviu esses que diziam que Maomé era um falso profeta. Mandou ele que os frades fossem colocados numa prisão escura para depois serem julgados. O filho do monarca lembrou que eles não deviam ser decapitados sem mais. 

Melhor seria cumprir algumas formalidades. Passados alguns dias, o soberano os chamou diante de seu tribunal. Ficou sabendo que eles tinham o propósito de se dirigirem à Africa. Realizou esse seu desejo. Eles embarcaram num navio pronto a zarpar para o Marrocos. Seu companheiro de viagem foi o infante português Dom Pedro Fernando, irmão do rei Afonso II.

Desde o momento de sua chegada ao Marrocos, Berardo, que conhecia a línguan começou imediatamente a pregar a fé cristã diante do rei e a tecer críticas contra Maomé e o Corão. O sultão do Marrocos, Abu Yacub, conhecido como Miramolino, os expulsou de sua cidade de Marrakech, ordenando que fossem reenviados a terras cristãs. Os frades não obedeceram, voltaram à praça e continuaram sua pregação. O rei enfurecido fez com que fossem lançados em valas para que morressem de fome e tormentos. Passadas três semanas, os frades foram encontrados em melhores condições do que no momento em que tinham ali sido lançados.

 Um tanto admirado com o fato, o Miramolino ordenou que partissem para a Espanha. Novamente conseguiram escapar e voltaram a pregar. O infante de Portugal temia acolhê-los porque por seu excessivo zelo cristão prejudicassem até os cristãos que compunham o seu séquito. Acolheu-os mas eles foram colocados sob vigilância estrita.

Aconteceu que o Miramolino, para fazer calar alguns rebeldes, foi obrigado a pedir auxílio ao príncipe português com o qual estavam os cinco frades franciscanos. Um dia tendo faltado água para o exército, Berardo tomou uma enxada e cavou um buraco fazendo brotar abundante fonte de água fresca, o que provocou maravilhamento por parte dos muçulmanos. Continuando a pregar, mesmo com a proibição do rei, os frades foram novamente presos, submetidos à flagelação e colocados em prisão. O povo queria que fossem vingadas as ofensas proferidas por eles contra Maomé. Foram flagelados nas encruzilhadas das estradas, arrastados sobre pedaços e cacos de vidro e em suas feridas foram derramados sal e vinagre misturados com óleo fervente. Os frades suportaram tudo com imensa paciência e pareciam impassíveis o que fez com o sultão Abud Yacub, admirado com tanta paciência e resignação, tentasse com muito doçura, fazer com que eles abraçassem o Islã, prometendo riquezas, honrarias e prazeres. Os frades não fizeram caso de suas proposições e continuaram a exaltar a fé cristã. Nesse ponto, o Miramolino, enfurecido, decapitou ele mesmo os cinco valentes defensores da fé na sua corte de Marrakech. Era 16 de janeiro de 1220. No mesmo instante em que sua alma se dirigia ao céu apareceram à infanta Sancha, sua benfeitora, recolhida esta em oração em seu quarto em Coimbra.

O povo se apoderou dos corpos e das cabeças dos mártires depois de lançados do palácio imperial e, em meio urros e ultrajes de todo tipo, arrastaram-os pelas ruas da cidade para expor-lhes numa estrumeira para os cães e pássaros. Um providencial temporal fez com que a gente fanática se dispersasse, permitindo que os cristãos recuperassem os restos dos frades e os transportassem à residência do infante Pedro de Portugal. Seus restos, depois de secos, foram colocados em urnas de prata. O infante os transportou a Portugal, à Igreja da Santa Cruz de Coimbra, onde foram acolhidos pelo rei e pela rainha bem como pelo povo. Neste lugar ainda são venerados.

O martírio dos seus franciscanos fez com que amadurecesse no jovem sacerdote Antonio de Lisboa, conhecido também como Santo Antônio de Pádua, a ideia de passar da Ordem dos Cônegos Regulares de Santo Agostinho à Ordem dos Frades Menores com a finalidade de ser missionário e conseguir o martírio. São Francisco, por sua vez, tomando conhecimento da noticia do martírio dos cinco frades exclamou: “Agora posso dizer que tenho cinco verdadeiros frades menores”.

Os seis franciscanos foram canonizados por Sisto IV com a bula Cum alias animo de agosto de 1481.
( Este texto é uma tradução livre do livro Frati Minori Santi e Beati, publicado pela Portulação Geral da Ordem dos Frades Menores, p. 19-22)

ORAÇÃO - Ó Deus, que consagrastes os primórdios da Ordem dos Menores pelo glorioso martírio dos vossos santos mártires Berardo e seus companheiros, concedei que possamos viver firmes na fé, como eles não hesitaram em morrer por vosso amor. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

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