8 de janeiro de 2013

Francisco de Assis, homem de fé

Michel Hubaut, franciscano francês, fala de Francisco fundamentalmente como homem da fé, mais do que amante da pobreza. Vivendo o Ano da Fé  com a Igreja, sentimo-nos filhos de um homem de profunda fé.
O homem sempre tem receio de renunciar a seus projetos imediatos para entrar no futuro de Deus. Francisco haverá de penetrar  na fé da mesma forma como se cava um poço no deserto, como se revira um campo para encontrar um tesouro. A fé é, antes de tudo, uma interrogação. O  Espírito faz com que ele se sinta insatisfeito consigo mesmo:

“Possuído por um espírito novo e singular, Francisco rezava ao Pai  que escuta no segredo (…). Estava como que tomado de uma grande paixão em seu espírito, e enquanto não conseguia executar o plano que havia concebido, não havia meios de encontrar  repouso.  Pensamentos variados se sucediam dentro  dele e a persistência desses o atormentava duramente” (1Celano 6).
Como, na verdade, acolher a gratuidade dos dons de Deus e ao mesmo tempo  deixar cair de nossas mãos nossas falsas riquezas? O oposto do medo será precisamente a fé. Ter a coragem de arriscar tudo. Renunciar ao desejo de apropriar a própria vida, seus dons e seus bens, de conduzir a vida sozinho e entrar no projeto do amor de Deus por nós. Francisco corre esse risco. Nada compreenderemos de sua vida se não levarmos em conta  esse fundamento inicial. Sua conversão consiste no desejo do homem que se abre ao desejo de Deus.
Basta que nos lembremos da cena em que ele se despoja de suas vestes diante do  bispo de Assis e de seu pai, dizendo:  “Até agora te chamei de pai sobre a terra, a partir de agora posso dizer com segurança:  Pai nosso que estais nos céus  (Mt 6,9), junto   a quem guardei todo o meu tesouro e coloquei toda fé e esperança”  (LM  2,4).
O carisma de Francisco não é a pobreza, mas a fé através da qual  ele joga seu presente e  seu futuro em Deus.
“Portanto,  nada mais desejemos, nada mais queiramos, nada mais nos agrade ou deleite a não ser o nosso Criador, Redentor e Salvador, único  Deus verdadeiro, que é o bem pleno, todo o bem, o bem total (…).  Assim, pois, nada nos impeça, nada nos separe, nada se interponha entre nós, em qualquer parte, em todo lugar, a toda hora, em todo o tempo, diária e continuamente, creiamos todos nós de verdade e humildemente e o tenhamos no coração, e amemos, honremos e adoremos…”  (Regra não bulada, XXIII, 9-10).
Ao longo de toda a sua vida, Francisco haverá de cultivar uma fé viva e vigilante, disponível ao apelo de Deus e ao  Espírito do  Senhor. Desobstruir nossas fontes interiores; escutar a Deus; procurar Deus; deixar-se amar e modelar-se por Deus; deixar-se guiar durante a noite pela esperança que se apresentou no rosto de Jesus Cristo; despertar de nosso torpor espiritual. Esse é o projeto evangélico de Francisco que lança suas raízes na fé. Fé daquele que descobre que Deus é dinamismo de amor que não ameaça nossa liberdade mas a estrutura, força que nos constrói e nos plenifica.  Ao longo de sua longa  busca pela luz, muitas vezes Francisco recitou esta oração:
“Ó  Deus, alto e glorioso, ilumina as trevas de meu coração. Dá-me uma fé reta, uma esperança certa e uma caridade perfeita, o senso do conhecimento, Senhor, para que eu abrace teu santo e verdadeiro mandamento”.
Michel Hubaut,  Chemins d’intériorité  avec Saint François,  Ed. Fraciscaines, Paris, 2012,p. 28-31)

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