7 de março de 2014

“Contemplar aquele que teve o peito traspassado”



“Olharão para aquele a que traspassaram” (João 19, 37) 

1. Todos gostamos de meditar nos últimos momentos da vida de Jesus. De modo particular no tempo da Quaresma e na Semana Santa, o tema nos toca de modo particular. Num determinado momento de seu relato, João nos convida a fazermos uma pausa contemplativa. Procuramos um canto silencioso e fixamos nosso olhar naquele foi traspassado. Nossa preocupação é simplesmente nos deixar impregnar pela majestade toda em aniquilamento.

2. Os soldados, com efeito, não lhe quebraram osso algum.  Ao terminar o relato da Paixão do Senhor, o evangelista  convida o leitor a contemplar aquele que se oferece na plenitude da dádiva de si mesmo. Cristo é o cordeiro pascal a que faz referência o  livro do Êxodo:  “Não lhe deveis partir nenhum osso” (Ex 12,46). A contemplação a que João nos convida não é como a dos soldados que simplesmente estavam encarregados de verificar a morte de Jesus.  João nos convida a olhar a cena com um olhar pascal, olhar de um discípulo que vê,  acredita.  Trata-se de um contemplar que se orienta para um crer.  O que João vê nesse acontecimento vai para bem além do fato em si. Esta vista que se transforma em fé vai para além do tempo e chega ao “hoje”.  Nada daquilo passou. Dura e perdura.

3. Vejamos como reflete sobre o tema  Eloi Leclerc:  “Atingimos, com efeito, as fontes da vida.  A lança cravada fez com as fontes jorrassem em abundância.  Agora basta olhar para aquele a quem traspassaram. O segredo da vida divina está ali a descoberto. Escancarado, poder-se-ia dizer. O sangue e a água que escorrem do lado perfurado não constituem mera prova fisiológica irrefutável da morte de Jesus. Simbolizam a vida divina que nada consegue conter nem ocultar. Confirmam que Jesus deu a vida ao entregar o Espírito.  Não deu apenas o último suspiro; comunicou ao mundo o Espírito que é vida e faz viver, o Espírito que o pai lhe concedera sem medida” (E.Leclerc,  Vida em Plenitude, Ed. Braga, p. 56).

4. O sangue e a água  são sinal da vida divina que Jesus comunica ao mundo, muito mais do que sinal da morte biológica.  Mostram uma vida que borbulha mesmo depois da morte, uma força capaz de vencer a própria morte e coloca glória sobre o corpo daquele condenado.  Ali se manifesta a sua glória.  No prólogo, o evangelista já havia dito:  “Nós vimos a sua glória”.  Viu-a especialmente na cruz.  É junto à cruz que realiza essa contemplação. “A hora da morte de  Jesus, quando ele entrega o Espírito e de seu lado aberto escorrem água e sangue, é exatamente a hora em que a glória divina se deixa contemplar na profundidade de seu mistério. A vida aparece aqui identificada com a violência de um amor.

Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM

Texto extraído de: http://www.franciscanos.org.br/

Nenhum comentário:

Postar um comentário