18 de março de 2014

Observações à margem do Capítulo Avaliativo da OFS


“CORAGEM! EIS QUE FAÇO NOVAS TODAS AS COISAS!

Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM
Assistente Nacional pela OFM

1. Dos dias 14 a 16 de março de 2014 realizou-se mais um capítulo avaliativo da Ordem Franciscana Secular do Brasil na cidade de Porto Alegre, RS. Ali, em torno do Conselho Nacional da OFS, estiveram representantes de todos os regionais: gente do grande norte, do nordeste, do centro, do sudeste e do sul. O clima, como não podia deixar de ser, era gaúcho. Recebemos a visita do arcebispo de Porto Alegre, nosso Frei Jaime Spengler. Gaúchos os pratos, as danças, jeitos e trejeitos, a fala as pessoas. Casa bem apetrechada para esse tipo de evento: verde, silêncio, beleza.

2. Houve um tempo de reflexão para os assistentes regionais e locais. Os assistentes nacionais tiveram ocasião de trocar ideias com eles. Há luzes e sombras no campo da assistência. A experiência nos diz que muitos assistentes levam a peito sua missão: fazem-se presentes na vida da fraternidade local, participam das reuniões do Conselho, na formação dos irmãos, nas reuniões gerais, no cuidado com os doentes e procuram fazer com a fraternidade não seja um grupo fechado, mas célula de Igreja e de um mundo novo. Estão ali como sinal de comunhão com a Ordem I.

3. Pede-se a participação dos assistentes de modo particular na formação de um laicato maduro, que levem as fraternidades a uma profundidade cristã, que os irmãos tendam à santidade. Importante que ajudem os irmãos a fazerem experiências de Deus, a serem familiares do Ressuscitado e saírem da superficialidade e mediocridade. Os irmãos tenderão à santidade. Os assistentes cuidarão de preparar bem os irmãos para a Profissão. Esta precisa ser um evento espiritual marcante na vida. Este Capítulo se fez em torno da busca do novo.

4.Sabemos que muitas fraternidades de nossa Província estão envelhecidas…Até que ponto nós mesmos, frades da Imaculada, não somos responsáveis por este envelhecimento? Até que ponto estamos dispostos a acompanhar os grupos, a acompanhar, de modo especial, os jovens da JUFRA? Sabemos que há um cansaço em alguns grupos… mas esse cansaço não pode justificar nossa ausência. Observou-se, uma vez mais, que muitos frades são nomeados assistentes sem vocação para exercer este ministério.

5. Por ocasião deste Capítulo foi lançado o livro: “Manual para a Assistência à Ordem Franciscana Secular e Juventude Franciscana”. Este escrito de mais de trezentas páginas é de fundamental importância para que os frades estudantes e não estudantes conheçam e amem a Ordem Terceira e o JUFRA. Pedidos e informações: ofsbr@ofs.org.br

6. Misturavam-se os irmãos de todo o país. Esse congraçamento é belo e necessário. Essa força e a luminosidade dos capítulos de nossas ordens. Ficamos conhecendo novas lideranças e com alegria sentimos que a JUFRA está se renovando. Surgem também algumas lideranças novas de rapazes e moças que já são professos na Ordem e que podem levar adiante a bandeira de um grupo de leigos que deseja ser cristão à maneira de Francisco, com o jeito de Francisco. Mas, cuidado. Há ainda muito que fazer. Quando um capítulo termina sentimos que tudo tem marcas de fragilidade.

7. Falou-se muito do novo. Novo no meio do marasmo. Novo porque não somos homens do passado mas, amparados numa tradição sólida, queremos abrir caminhos novos. O Papa Francisco anda pedindo que sejamos cristãos novos e a Ordem Franciscana Secular está proibida de envelhecer.

Tudo começa com a séria renovação de cada irmão terceiro, de cada assistente. Sem esta tomada de decisão pessoal não se pode dar um passo adiante. Paira no ar um certo marasmo que vem da falta de convicção de muitos. Pertencemos a uma organização religiosa mas nos falta alma. Sem a renovação da pessoa que se chama conversão contínua é melhor não continuar esta leitura. Os conselhos em todos os níveis precisam começar com esta renovação pessoal.

Cada fraternidade, cada conselho necessitam dar as razões de sua existência. Por que nos reunimos em fraternidades franciscanas? Por que fazemos nossos encontros de conselho? O que queremos? Para que existimos? O que queremos com nossas atividades? Somos pessoas “significativas”? A Igreja pode nos ver como grupos capazes de reconstruir a “Igreja que está em ruínas”?

Precisamos fazer uma séria revisão das reuniões gerais e dos textos que usamos na formação. Nossas reuniões precisam ser também fóruns de discussão dos problemas do mundo, das coisas cristãs e humanas, ou mais precisamente, das coisas humanas e cristãs, das coisas novas. Não podem ser repetitivas, cansativas, enfadonhas e mornas. Não queremos apenas um Francisco cor-de-rosa, mas um Francisco perito em humanidade e humanismo.

Precisamos sair de uma prática vazia da oração, prática rotineira, oração sem que o coração seja visitado. Necessário fazer experiências de oração que marquem nossa trajetória. Cabe aos Assistentes velar pela qualidade da oração nas reuniões e levar os irmãos, de modo particular em tardes de oração e retiros, a fazerem inolvidáveis experiências de Deus.

Os franciscanos haverão de aproximar-se das pessoas sem proselitismo, sem julgamentos, sem vontade de conquista-los. Terão gosto de organizar encontros com vizinhos, sejam eles praticantes ou não, casados ou recasados.

O que nos impede procurar o novo é a insegurança, o medo, o fechamento, o automatismo. Estaremos sempre prontos a acolher ao inesperado.

8. Exemplificando e indo mais adiante:

A verdade não muda. O Evangelho não muda. A promessa de se consagrar a Deus não muda e ao mesmo tempo tudo tem de novo. Maurice Bellet: “É preciso mudar a vida. Necessário mudar tudo. Mudar tudo não é destruir tudo. É salvar tudo”.

A OFS será a mesma, mas tudo será diferente; reuniões menos estáticas, relacionamentos mais simples, seriedade na busca de Deus, vontade de sair do pequeno grupo. Seus membros sorverão a goles generosos a riqueza de um carisma que remonta a Francisco.

A paróquia continua existindo. Quanto possível será menos burocrática, mais simples, mais acolhedora, mais evangelizadora, mais compassiva, mais dialogante. Os encontros serão menos formais, mais descontraídos, tudo salpicado do Evangelho.

O casamento será novo, marcado por um grande bem-querer, bem-querer profundo, casais que crescem numa maturidade humana e cristã, profissional e pastoral, sem subordinações machistas e revanchismos feministas. Tudo maduramente feito e procurado. Os casais haverão de se renovar.

As famílias serão mais democráticas. Os pais aprenderão com os filhos e os filhos continuarão a aprender com os pais. Os filhos não serão forçados a seguir esquemas marcados pela velhice de uma sociedade consumista cansada e vazia. Estes haverão de criar modos novos de viver se serem escravos do consumismo e de uma comunicação invasiva e vazia.

Fugir como o diabo da cruz de todas as práticas legais, sem alma, sem mística, sem viço. Evitar os caminhos batidos. Ter sempre a certeza de que vivemos sempre sob o olhar do Ressuscitado. Não é precisamente isto a fé?

Rever sempre de novo a prática da vida fraterna: vida na fraternidade local, fraternidade com os de fora, fraternidade da não violência.

Visitar o nosso interior. Não deixar nenhum canto marcado pelo vazio. Dar hospitalidade ao Espírito e tender à maturação humana e cristã.

Deixar-se impregnar do Evangelho vivo que se chama Jesus ressuscitado. Não larga-lo. Evangelizar sempre e tanto quanto for possível a começar pela nossa vida de menores, de seres fraternos, pessoas de contemplação, fazendo-nos presentes na vida dos outros, sobretudo dos mais abandonados.

Sempre prontos a acolher o inesperado.

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