9 de agosto de 2012

NESTA FESTA DE SANTA CLARA VAMOS LER AS CARTAS QUE ELA DEIXOU



Por
Frei Vitório Mazzuco Fº

Santa Clara torna-se mãe de muitas discípulas. Sua fama de santidade encanta e convoca. A clausura não é obstáculo para visitar os corações de tantos que moram fora do claustro. Se não há presença física pode-se escrever. Clara corresponde a este anseio através de muitas cartas. Temos quatro para Inês de Praga e uma enviada a Ermentrude de Bruges que queremos deixar aqui para a reflexão. Amizade e espiritualidade se encontram nestas palavras. Uma vida de busca lúcida do Amado, da Palavra Sagrada e da Vida Religiosa. Iluminar a escolha e ter a nitidez na vocação.Ser perseverante em imitar a Pobreza do Esposo. Seguir um caminho divino por Amor. Olhar-se no Espelho.

O caminho de Clara é o caminho de suas discípulas: recusar propostas de algum envolvimento temporal e vibrar por uma única paixão: Seguir Jesus Cristo Pobre, Humilde, nascido no Presépio, Crucificado num seguimento humilde feito Fraternidade à luz do Evangelho. Nestas cartas temos fortes palavras místicas ditas com segurança e ternura. A ternura garante espessura humana à vida, cria relações e ligas as pessoas em profundidade. Onde falta a ternura entra o enrijecimento e desaparece a alegria de viver. Em Clara e no seu Mosteiro não há aquele véu de tristeza e rigidez que aparece em tanta gente que diz viver uma espiritualidade e criam vida em comunidades de gente triste e cheia de culpa. Clara, em suas cartas, revela o que sempre foi: terna, afável, cortês, hospitaleira, irmã e amiga, serva atenciosa e solícita, mestra da alma. Acolhe sem reservas o Amor do Esposo e ao Esposo, e faz dele a sua resposta de amor para a humanidade. O que escreve nas cartas está escrito em seu coração. Aqui uma junção de textos de cinco cartas. Leia e olhe-se neste Espelho e deixe que estas cartas leiam a sua alma:

Fragmentos das Cartas de Santa Clara à Inês de Praga

Portanto, irmã caríssima, porque sois esposa, mãe e irmã do meu Senhor Jesus Cristo, ficai firme no santo serviço do pobre Crucificado, ao qual vos dedicastes com amor ardente. Ele suportou por todos nós a paixão da cruz e nos arrancou do poder do príncipe das trevas.

Ó piedosa pobreza, que o Senhor Jesus Cristo dignou-se abraçar acima de tudo, ele que regia e rege o céu e a terra, ele que disse e tudo foi feito! Pois disse que as raposas têm tocas e os passarinhos têm ninhos, mas o Filho do homem, Jesus Cristo, não tem onde reclinar a cabeça. Mas, inclinando a cabeça, entregou o espírito.

Portanto, se tão grande e elevado Senhor, vindo a um seio virginal, quis aparecer no mundo desprezado, indigente e pobre, para que os homens e as mulheres, paupérrimos e miseráveis, na extrema indigência do alimento celestial, nele se tornassem ricos possuindo os reinos celestes, vós tendes é que exultar e vos alegrar muito, repleta de imenso gáudio e alegria espiritual, pois tivestes maior prazer no desprezo do século que nas honras, preferistes a pobreza às riquezas temporais e achastes melhor guardar tesouros no céu que na terra, porque lá nem a ferrugem consome nem a traça rói, e os ladrões não saqueiam nem roubam.

Vossa recompensa será enorme nos céus, e merecestes ser chamada com quase toda a dignidade de irmã, esposa e mãe do Filho do Pai Altíssimo e da gloriosa Virgem. (...)

Por isso achei bom suplicar que vos deixeis fortalecer no seu santo serviço, crescendo de bem para melhor, de virtude em virtude, para que aquele que servis com todo desejo do coração digne-se dar-vos os desejados prêmios.

Não perca de vista seu ponto de partida, conserve o que você tem, faça o que está fazendo e não o deixe, mas, em rápida corrida, com passo ligeiro e pé seguro, de modo que seus passos nem recolham a poeira, confiante e alegre, avance com cuidado pelo caminho da bem-aventurança. Não confie em ninguém, não consinta com nada que queira afastá-Ia desse propósito, que seja tropeço no caminho, para não cumprir seus votos ao Altíssimo na perfeição em que o Espírito do Senhor a chamou.

Se alguém lhe disser outra coisa, ou sugerir algo diferente, que impeça a sua perfeição ou parecer contrário ao chamado de Deus, mesmo que mereça sua veneração, não siga o seu conselho. Abrace o Cristo pobre como uma virgem pobre.

Com o desejo de imitá-lo, mui nobre rainha, olhe, considere, contemple o seu esposo, o mais belo entre os filhos dos homens feito por sua salvação o mais vil de todos, desprezado, ferido e tão flagelado em todo o corpo, morrendo no meio das angústias próprias da cruz.

Se você sofrer com Ele, com Ele vai reinar; se chorar com Ele, com Ele vai se alegrar; se morrer com Ele na cruz da tribulação vai ter com Ele mansão celeste nos esplendores dos santos. E seu nome glorioso entre os homens, será inscrito no livro da vida.

Vejo que são a humildade, a força da fé e os braços da pobreza que a levaram a abraçar o tesouro incomparável escondido no campo do mundo e dos corações humanos, com o qual compra-se aquele por quem tudo foi feito do nada. Eu a considero, num bom uso das palavras do Apóstolo, auxiliar do próprio Deus, sustentáculo dos membros vacilantes de seu corpo inefável.

Quem vai me dizer, então, para não exultar com tão admiráveis alegrias? Por isso, exulte sempre no Senhor também você, querida. Não se deixe envolver pela amargura e o desânimo, senhora amada em Cristo, gozo dos anjos e coroa das Irmãs.

Ponha a mente no espelho da eternidade, coloque a alma, no esplendor da glória. Ponha o coração na figura da substância divina e transforme-se inteira, pela contemplação, na imagem da divindade.

Desse modo também você vai experimentar o que sentem os amigos quando saboreiam a doçura escondida, que o próprio Deus reservou desde o início para os que o amam. Deixe de lado tudo que neste mundo falaz e perturbador prende seus cegos amantes e ame totalmente o que se entregou inteiro por seu amor, aquele cuja beleza o sol e a lua admiram, cujos prêmios são de preciosidade e grandeza sem fim. Prenda-se à sua dulcíssima Mãe, que gerou tal Filho que os céus não podiam conter, mas que ela recolheu no pequeno claustro do seu santo seio e carregou no seu regaço de menina.

Assim como a gloriosa Virgem das virgens o trouxe materialmente, assim também você, seguindo seus passos, especialmente os da humildade e pobreza, sem dúvida alguma, poderá trazê-lo espiritualmente em um corpo casto e virginal. Você vai conter quem pode conter você e todas as coisas, vai possuir algo que; mesmo comparado com as outras posses passageiras deste mundo, será mais fortemente seu.

Feliz, decerto, é você, que pode participar desse banquete sagrado para unir-se com todas as fibras do coração àquele cuja beleza todos os batalhões bem-aventurados dos céus admiram sem cessar cuja afeição apaixona, cuja contemplação restaura, cuja bondade nos sacia, cuja suavidade preenche, cuja lembrança ilumina suavemente, cujo perfume dará vida aos mortos, cuja visão gloriosa tornará felizes todos os cidadãos da celeste Jerusalém, pois é o esplendor da glória eterna, o brilho da luz perpétua e o espelho sem mancha.

Olhe dentro desse espelho todos os dias, ó rainha, esposa de Jesus Cristo, e espelhe nele, sem cessar, o seu rosto, para enfeitar-se toda, interior e exteriormente, vestida e cingida de variedade, ornada também com as flores e roupas das virtudes todas, ó filha e esposa caríssima do sumo Rei. Pois nesse espelho resplandecem a bem-aventurada pobreza, a santa humildade e a inefável caridade, como, nele inteiro, você vai poder contemplar com a graça de Deus.

Preste atenção no princípio do espelho: a pobreza daquele que, envolto em panos, foi posto no presépio! Admirável humildade, estupenda pobreza! O Rei dos anjos repousa numa manjedoura. No meio do espelho, considere a humildade, ou pelo menos a bem-aventurada pobreza, as fadigas sem conta e as penas que suportou pela redenção do gênero humano. E, no fim desse mesmo espelho, contemple a caridade inefável com que quis padecer no lenho da cruz e nela morrer a morte mais vergonhosa.

Assim posto no lenho na cruz, o próprio espelho advertia quem passava para o que deviam considerar: Ó vós todos que passais pelo caminho, olhai e vede se há outra dor igual à minha. Respondamos a uma voz, num só espírito, ao que clama e grita: Vou me lembrar para sempre e minha alma vai desfalecer em mim.

Tomara que você se inflame cada vez mais no ardor dessa caridade, ó rainha do Rei celeste! Além disso, contemplando suas indizíveis delícias, riquezas e honras perpétuas, proclame, suspirando com tamanho desejo do coração e tanto amor: Arrasta-me atrás de ti! Corramos no odor dos teus bálsamos, ó esposo celeste!

Vou correr sem desfalecer, até me introduzires na tua adega, até que tua esquerda esteja sob a minha cabeça, sua direita me abrace toda feliz, e me dês o beijo mais feliz de tua boca.

Que mais? No amor por você, cale-se a língua de carne, fale a língua do espírito.

EXTRAÍDO DE: http://carismafranciscano.blogspot.com.br/

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