Por N.G. Van Doornik
O nosso mundo ocidental perdeu este sentido do cosmos. Esvaziaram-se
muitos símbolos que durante milhares de anos falaram ao homem, como
intérpretes do “mundo atrás das estrelas”.
À medida que a técnica elimina a necessidade de evocar em símbolos o
mundo invisível, o poeta é substituído pelo homem de ciência. Mas para
aquilo para que este necessita de uma pesquisa minuciosa, o poeta
emprega, às vezes, uma única palavra.
O mesmo se dá com o místico que, com uma única imagem, faz com que o
homem fique ciente de uma realidade religiosa, ao passo que o teólogo
tem que recorrer a uma quantidade de noções.
E numa Igreja – penso eu – em que a quantidade de noções elimina a
simplicidade religiosa, a confusão a respeito da fé não está mais longe.
De outro lado, a teologia deve ter cuidado com o simbolismo. A imagem
religiosa pode apresentar-se – literalmente ou figurativamente – como
realidade. A arte plástica, inclusive a verdadeira arte da Idade Média e
da Renascença, proveu a imaginação popular de representações em que os
mistérios da fé foram “sonhados”.
Dessas representações partiu, é certo, uma grande força, mas não raro
elas causaram desvirtuamento. Os símbolos tornaram-se concepções
infantis da fé. A crise aconteceu, sobretudo, quando a ciência profana e
a religiosa começaram a demonstrar que essas representações não
exprimiam a realidade em sentido científico.
E não poucas vezes foram rejeitados, com os símbolos, também os mistérios simbolizados.
Hoje em dia esforçam-se muitos por uma extrema sobriedade,
principalmente no oculto. Mas quem compreende o valor simbólico do
Cântico do Sol, pergunta a si mesmo se não vamos parar no outro extremo,
num vazio, em que o mistério só é experimentado por meio de conceitos.
O homem religioso não pode prescindir do símbolo, em que o divino é focalizado. “No vácuo” é-lhe impossível respirar.
Quando o nosso culto religioso se reduz a simples palavras,
desaparece a atmosfera mística e muitos terão saudades das catedrais,
das abadias e das antigas formas de liturgia, em que se oferece uma
atmosfera sagrada.
Eu ousaria dizer: quando uma criança só sente aborrecimento com o
culto litúrgico, é um sinal de que se perdeu alguma coisa das formas
sensíveis
e indispensáveis que com o tempo se haviam introduzido em nossa liturgia.
Já que em nosso mundo ocidental o símbolo está perdendo o seu valor,
deve-se fazer uma diagnose não só do símbolo, mas também do mundo
ocidental.
A vida de Francisco está marcada pelo símbolo. O símbolo era para ele
uma contínua celebração do cosmos em Deus. E quando seus olhos não mais
podiam suportar o clarão da luz e ele jazia enfermo numa pobre
choupana, ainda pôde cantar do irmão Sol, irradiante de esplendor: “De
Ti, ó Altíssimo, ele é imagem”.
Texto extraído do livro “Francisco de Assis, Profeta de Nosso Tempo”, de N.G. Van Doornik
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