Por Frei Vitório Mazzuco, OFM
Vejamos mais um texto narrado pelo Biógrafo São Boaventura:
“Quem seria capaz de narrar o amor fervoroso no qual ardia Francisco, o amigo do Esposo? Parecia, de fato, todo absorto, como um carvão ardente, na chama do amor divino” (LM IX, 1-2).
Quem somos nós, para falarmos de Deus se Ele não é uma chama que queima em nós? A mística franciscana nos provoca a evoluirmos como filhos e filhas apaixonados pelo Pai das Luzes. Deus não vem dos valores relativos criados pela intelectualidade humana; porém vem do mais profundo de nossos sentimentos. A mística franciscana quer nos ajudar a refazer a experiência do próprio Filho de Deus, o Mestre de Nazaré, que diz: “Deus é Amor!”.
É como se a mística franciscana nos dissesse assim: se você quer falar de Deus, fale sobre o Amor! Não o amor relativo, preso ao turbilhão dos sentimentos e que, às vezes, podem ser mesquinhos, como o suposto amor de certos romances e novelas; ou então das possessivas relações a dizer : “Eu te amo, mas exijo isto, e aquilo e mais aquilo; eu te amo pelo que você tem”. Para a mística franciscana amar é dizer: eu te amo pelo que você é e pelo Amor que está em você! Quanto eu digo “eu te amo”, para a mística franciscana é a mesma coisa que dizer: eu me faço feliz e quero te fazer feliz pelo Amor que nos envolve. É preciso amar o Amor que está em alguém. Eu me faço feliz com Ele e quero que Ele te faça feliz! Ninguém pode fazer feliz alguém, mas você se faz feliz com alguém através do Valor Maior (“a priori”). Francisco de Assis compreendeu isso como ninguém: há valores que só quem ama alguém percebe em alguém que é amado!
Para a mística franciscana, o verdadeiro Amor é o Absoluto que alimenta tudo e todos, é imenso, é a Vida! Para falar de Deus temos que passar por este filtro de compreensão do Amor. A primeira definição de amor que temos em nossa vida é o amor de nossos pais. Um amor que se aproxima da perfeição; mesmo assim este amor é pequeno perto do Amor de Deus Pai. Ao vislumbrar esse sentir, podemos ter uma vaga e nebulosa ideia, pois ainda vemos como que num espelho, não o vemos face a face como diz São Paulo.
Para São Francisco, o Amor de Deus é a mais bela oferenda. Ele consegue ver que Deus colocou nos caminhos de sua vida a dor, o leproso, o mendigo, a incompreensão da cidade. O Pai, que ele tivesse o privilégio de praticar a generosidade do Amor. O amor como oferenda e encontro nos harmoniza. Francisco observava que tudo era a mais completa oferenda: a natureza pratica ajuda. Já pensou se dissesse: “não vou mais chover” ou se um canário piasse dizendo: “hoje não vou mais cantar”. Para a mística franciscana, a vida celebra e pratica a mais bela e constante doação, esse princípio cósmico sem o qual se perde a razão de ser. O sol ajuda as plantas, as plantas ajudam os animais, os animais ajudam o ecossistema. Tudo é ajuda, respiração e movimento. Por isso, para Francisco de Assis, falar de Deus é falar de um movimento de cuidado! Repetir, isto é, refazer o cuidado, é criar um movimento de Amor no Universo, pois cada um de nós é como uma célula neste grande corpo cósmico e parte de um único Corpo: O Corpo Sagrado do Amor de Deus, o Corpo Místico. Para a mística franciscana, falar de Deus é sentir Deus, é Amar com o Deus ama. O verbo amar é que permite a maior e melhor aproximação de Deus. Nós rezamos muito, mas isto ainda é pouco: é preciso em nossas palavras respirar e perceber.
Fim deste primeiro Capítulo. Na próximo post, "A MÍSTICA DA UNIÃO CÓSMICA – O Cântico das Criaturas"
Extraído de : http://carismafranciscano.blogspot.com.br/
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