Por Frei Vitório Mazzuco, OFM
A MÍSTICA DA UNIÃO CÓSMICA – O Cântico das Criaturas
Vamos procurar compreender o Espírito que está por detrás do Cântico das Criaturas de São Francisco, ou o Cântico do Sol como também é conhecido.
O Cântico das Criaturas é uma experiência de Francisco. Vamos procurar compreendê-la. Compreender é refazer a experiência do outro. É tentar descobrir o sentido, redescobrir a experiência religiosa que está por detrás dos escritos de S. Francisco. Este texto nos irá mostrar a maravilha de como este autor viveu Deus dentro de sua vida.
Este texto nos leva a pensar que o humano deve ter os seus olhos abertos para a profundidade das coisas. Temos que aprender a dar um mergulho religioso na realidade. Para a gente experimentar e exprimir... (Aqui reside uma decisão para toda humana criatura, uma decisão fundamental, pois é isto que nos faz pessoas maduras.)
Temos que perguntar: Poderá o mundo técnico, secular, segmentarizado, pluralista, urbano, opaco, revelar Deus? Essa pergunta é falha. A verdadeira pergunta consiste: Poderemos nós, nesse mundo técnico, secular, segmentarizado, pluralista, urbano e opaco, ver a presença de Deus? Deus esta presente em tudo e em toda parte. Isso não faz o problema. O problema é se nós temos olhos para vê-Lo.
Na leitura do Cântico das Criaturas parece que estamos vendo uma escada (de Jacó) através da qual o místico Francisco ascende até Deus. Nesse sentido Francisco não é original, mas se alinha entre os místicos e os cantores bíblicos, salmistas e santos que cantaram também a natureza com seus elementos. Mas a originalidade de Francisco consiste no modo singular e simples como as coisas, no Cântico, são concebidas, valorizadas, ornadas. Ele segue a ordem cosmológica da época (os 4 elementos: terra, água, fogo e ar e o geocentrismo da cosmologia antiga), mas segundo uma ordem profunda da psique. Os elementos subjetivos (sol, lua, estrelas, etc.) valem enquanto exprimem uma vibração mística da alma. Eles formam uma língua com a qual o místico quer exprimir aquilo que lhe passa na alma: a união religioso-cósmica de tudo com Deus.
O hino representa o término de um longo itinerário espiritual de S. Francisco. Já se havia passado vinte anos de conversão. Dia após dia se esforçava Francisco em seguir os traços do Senhor, com grande humildade, meditando o “evento da doçura” do Altíssimo Filho de Deus. No Monte Alverne havia recebido as chagas do Senhor crucificado. Perdia sangue, enfraquecido pela doença, e cego, quase agonizante. Sofria mais certamente na alma. Via a cristandade medieval cobiçosa e cheia de poder sagrado e profano. Fazia-se então uma cruzada contra os mulçumanos na Palestina. Os valores evangélicos da pobreza, simplicidade e paz eram violados profundamente na Igreja, em nome do amor de Deus. Na Ordem havia já aparecido os primeiros problemas. Fazia-se tarde na vida de Francisco. Tarde sem doçura das tardes da Úmbria e da Toscana.
Imagem: "Cântico do Irmão Sol", de Piero Casentini
Continua...
Extraído de : http://carismafranciscano.blogspot.com.br/
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