26 de setembro de 2011

São Francisco e a Paciência


Por Frei Edson Matias, OFMCap.

Francisco sabia de que barro era feito. Conhecendo sobre si mesmo vislumbrava o abismo do coração do homem. Sabia que o mundo da virtude não excluía a finitude, mas a segurava em plena vista. Perder de horizonte nossas fraquezas, para ele, era cair no orgulho. Este procura motivos para se vangloriar. Quem faz isso, o santo sabia muito bem, que não servia a não ser ao espírito da carne.

Era assim em todo o proceder do pobrezinho de Assis. Ao tratar de uma virtude, relembrava primeiro de que “esterco” tinha em si. Entretanto, “esterco” (limitações, orgulho) é algo difícil de entender hoje, pois temos uma pseudo espiritualidade que muitas das vezes é alicerçada no próprio orgulho. Por exemplo, se confunde hoje espiritualidade com pieguismo, devocionalismo e até mesmo com hipersensibilidade. Nada disso diz da espiritualidade vivida por Francisco. Era uma vivência vigorosa que aceitava, enfrentava e transformava em vigor até mesmo coisas absurdas para nós hoje. Até mesmo as limitações eram muitas vezes causa de alegria. Ou melhor, de uma verdadeira alegria: estar mais perto do Amado.

Ao tratar da virtude da paciência diz o santo na Admoestação 13:

1 Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus (Mt 5,9). O servo de Deus não pode saber quanta paciência e humildade tem em si, enquanto tudo acontece como ele quer. 2Mas quando vier o tempo em que os que lhe deveriam dar prazer fizerem o contrário, a paciência e humildade que tiver nessa ocasião é tudo que tem e nada mais. (Adm 13).

Aqui não sobra lugar para orgulho, em suas desculpas e justificativas para se colocar em um patamar melhor. Ninguém sabe quem se é realmente até que surja uma adversidade. O paciente somente se apresentará quando isso for requisitado dele. Ou seja, qualquer caminho – ‘espiritualidades’ – que tente o ser humano a fugir das situações conflitivas, tirando ele do cotidiano da vida, vai contra esse modo de viver dos primeiros franciscanos. Por isso, que as novas espiritualidades, nascidas de correntes pentecostais e neo-pentecostais da atualidade, em muitos aspectos vão na contramão da proposta franciscana.

Ao fim da admoestação 13 vemos no momento da angustia que se revelará o que temos. Parece até trágico, mas é de uma realidade cortante. Quando chegar esse momento conflitivo vai se revelar o que somos e nada mais. A espiritualidade proposta por Francisco é vibrante, realista e mata com qualquer esperança superficial. Ele desce onde o homem se encontra e dali pode vislumbrar o crucificado.

A proposta de Francisco é difícil de ser vivida. Não é florilégios ou coisa ‘bonitinha’, mas profunda e intensamente humana-divina. T

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