Por Leonardo Boff
O fascínio e o mistério da figura de S. Francisco reside em sua semelhança com o mistério e o fascínio de Jesus Cristo. Há tanto num quanto noutro algo de profundamente simples, transparente, nascivo, originário e convincente. Ambos constituem uma grande interrogação para todo homem verdadeiramente religioso. Ninguém pode subtrair-se ao Numinoso e Divino que se desprende de suas vidas. Evidentemente, para um cristão por maiores que sejam as semelhanças entre S. Francisco e Jesus Cristo nunca chegarão a esconder as infinitas diferenças que vigoram entre eles. Um é o Filho Unigênito e Eterno do Pai e o outro é, na expressão de S. Boaventura, um humilde repetidor de Jesus. '
Um constitui a realidade-fonte, outro a realidade-reflexo. São Francisco jamais quis seguir um caminho pessoal. Nunca buscou uma experiência nova. Propôs-se com todo empenho a imitar e a "seguir a doutrina e as pegadas de Cristo" ', o "totus Christus crucifixus et configuratus".' Nele há "uma deliberada renúncia a toda originalidade". * Jamais antes e depois de S. Francisco assistimos no Ocidente a um tão apaixonado amor a Cristo a ponto de tentar imitá-lo nos mínimos pormenores, na letra e no espírito. Queria venerar e reproduzir todos os aspectos da vida e do mistério de Cristo, não apenas os humanos, como se sói repetir.' Jamais alguém dentro do Cristianismo logrou assimilar Jesus Cristo em sua vida como S. Francisco a ponto de trazer no corpo os sinais da Paixão e na alma as arras do Reino de Deus. Com acerto resume S. Boaventura o sentido do impulso de S. Francisco: "saciava toda a alma no seu Cristo e se entregava todo, de corpo e de alma, somente a ele".
Extraído do livro "Nosso Irmão Francisco de Assis", da Editora Vozes
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