Frei Celso Márcio Teixeira, OFM
Introdução
Um dos mais profundos anseios do coração humano é o anseio pela paz.
Fundamentalmente, todas as utopias da humanidade – elaboradas ou não –
se resumem no desejo de paz. A utopia que se chama cristianismo também é
fundamentalmente um desejo de paz. E quanto mais distantes estivermos
dela, mais sonharemos com ela; quanto mais violento for o mundo que nos
rodeia, mais a desejaremos. Este desejo é como uma minúscula brasa que
fica escondida sob um montão de cinzas, esperando que alguém venha
soprá-la para que ela se manifeste em todo o seu brilho e calor. Perder a
esperança e não crer nesta utopia significa apagar em si o sonho que dá
sentido à vida; e apagar o sonho da vida é extinguir-se a si mesmo. Por
isso, aqui vale o conselho do profeta Isaías: Não apagar o pavio que
ainda fumega (cf. Is 42,3).
Ao longo da história, vários foram os profetas da paz que tentaram
manter acesa, ainda que sob uma montanha de cinzas, a brasa da paz.
Somente para lembrar os nomes de alguns: Isaías, o profeta da paz,
elaborou a sua utopia, na qual ele via o lobo comer com o cordeiro (cf.
Is 11,6-9); Jesus Cristo anunciou um reino que resumia todas as utopias
do ser humano, “reino da verdade e da vida, reino da justiça, do amor e
da paz”; Francisco de Assis, trovador e profeta, símbolo de homem
reconciliado com todos os seres, desde a mais brilhante estrela do
firmamento ao minúsculo verme que se arrasta pela terra; Mahatma Ghandi,
o homem que pregou a revolução pela via da não violência.
O mundo atual, marcado pela cultura da morte, ainda sonha com a paz.
Isto significa que o pavio ainda fumega (cf. Is 42,3). A sociedade
movimenta-se de maneira pluriforme em busca da realização dessa utopia.
Este contexto nos parece campo fértil para que franciscanos e
franciscanas desenvolvam toda uma evangelização voltada para a paz. A
inserção nos movimentos de paz será um dos lugares preferenciais de
presença franciscana. Aí temos a tarefa de dar uma contribuição
tipicamente franciscana.
Esta contribuição, a nosso ver, não pode limitar-se ao nível
panfletário. Temos uma contribuição mais substancial a oferecer. Ela
abrange dois pólos: Um em nível de reflexão, outro em nível de ação. Em
nível de reflexão, temos toda uma espiritualidade que serve de
fundamentação para nossa presença nos movimentos de paz; temos toda uma
teologia a oferecer aos nossos interlocutores e aliados. Em nível de
ação, devemos ter a coragem de abandonar nossas “pastorais” rotineiras e
partir para uma presença mais ágil e significativa no meio dos pobres,
dos excluídos, primeiras vítimas silenciosas de sistemas causadores de
violência, de exclusão e de morte.
Portanto, é importante que tenhamos consciência de que nossa
contribuição franciscana deve ser qualificada. Distribuir panfletos?
Todo mundo pode fazer isto. Uma reflexão franciscana e uma presença
franciscana de qualidade, ao contrário, é tarefa que cabe unicamente a
nós.
1. Uma reflexão preliminar: A evangelização como quadro de referência do anúncio franciscano da paz
Normalmente, quando se escreve ou se fala sobre o tema da paz em
Francisco de Assis, vai-se entrando imediatamente no tema, praticamente
sem fazer alusão a um quadro mais amplo de referência. Começa-se a
tratar da paz que Francisco pregava, como que desvinculando-a do
conjunto ou amputando-a do corpo todo da atividade e da proposta de vida
de Francisco. Por isso, o anúncio da paz corre o risco de ser
compreendido como um apêndice, como algo que Francisco fazia ao lado de
sua atividade evangelizadora, ou apenas de vez em quando, ou como um
tema ao lado de outros. Está aí, a nosso ver, uma compreensão parcial
(portanto, distorcida) do que Francisco entendia pelo anúncio da paz.
Realmente, o fato de desvincular a proclamação da paz de toda a
atividade (e espiritualidade) de Francisco não deixa de empobrecer o
próprio conteúdo de sua concepção sobre a paz.
Segundo nosso modo de ver, o quadro de referência para o anúncio (e
compreensão) da paz está na evangelização. Evidentemente, o termo
“evangelização” é recente na teologia. Praticamente, só ganhou impulso e
divulgação e relevância a partir da encíclica Evangelii Nuntiandi, do
Papa Paulo VI. Mas a prática da evangelização é tão antiga como o
próprio evangelho. Por isso, podemos atribuir uma terminologia nova a
uma prática antiga (no caso, da Idade Média), conscientes de não
estarmos traindo a verdade dos fatos.
A evangelização é o ponto chave para compreendermos a vocação de
Francisco e de seus companheiros (por conseguinte, a vocação legada como
herança a toda Ordem). Uma leitura mais comum, inclusive dos biógrafos
da primeira hora, tem centralizado a vocação de Francisco na escolha da
pobreza. Esta seria para muitos a ótica sob a qual deve ser contemplado
todo o desenvolver da vocação franciscana. Nosso modo de considerar
prefere ver na evangelização o pólo catalisador de todo o movimento
franciscano desde as origens. De fato, após alguns anos de busca de uma
resposta, vivendo primeiramente como eremita e depois como reconstrutor
de capelas, Francisco sente-se tocado pelas palavras do Evangelho (1)
que teria ouvido durante uma missa na Porciúncula. Tratava-se do texto
do envio dos discipulos (Lc 10,1-11 ou Mt 10,1.5-15; em Mt trata-se do
envio dos doze) para anunciar o Reino.
Ora, este texto do Evangelho, depois de descrever o envio dos
discípulos na condição de pessoas despojadas (nada leveis pelo caminho),
contém três elementos nucleares: a) a saudação da paz; b) a cura dos
doentes; c) o anúncio do reino (esta ordem em Mt 10 está exatamente ao
inverso).
Uma interpretação dicotômica poderia ver nestes elementos três fases
da tarefa de evangelizar, a saber, a saudação da paz, como sendo uma
introdução, a cura dos doentes, como uma preparação para a
evangelização, e o anúncio do Reino, que seria a tarefa evangelizadora
propriamente dita. A nosso ver, porém, estes três elementos constituem a
própria evangelização. O conjunto todo é anúncio do reino. O reino de
Deus só pode ser reino de paz, caso contrário não será reino de Deus.
Por isso, a própria saudação de paz já é anúncio do reino, como também a
cura dos doentes é anúncio de um reino sem males (cf Lc 7,18-23).
O primeiro biógrafo, mesmo com a tentação de interpretar a vocação de
Francisco na ótica da pobreza (de fato, descreve primeiramente o
despojamento de Francisco que troca o hábito de eremita por outro muito
pobre e desprezível), passa em seguida a descrever a tarefa
evangelizadora de Francisco: “A partir de então, com grande fervor de
espírito e alegria da alma, começou a pregar a todos a penitência,
edificando os ouvintes com palavras simples, mas com o coração nobre …
Em toda pregação sua, antes de propor a palavra de Deus aos que estavam
reunidos, invocava a paz, dizendo: ‘O Senhor vos dê a paz’ (cf 2Ts 3,16;
Lc 10, 4b). Anunciava-a sempre mui devotamente a homens e mulheres, aos
que ele encontrava e aos que lhe vinham ao encontro. Por esta razão,
muitos que odiavam a paz, com a cooperação do Senhor, abraçaram de todo
coração a salvação juntamente com a paz, tornando-se também eles filhos
da paz e desejosos da salvação eterna”(2).
A saudação da paz e a proposição da palavra de Deus, descritas por
Tomás de Celano, remetem-nos imediatamente ao texto de Lc 10. Só falta o
elemento da cura dos doentes. Esta constatação nos permite concluir que
para Francisco a saudação e o anúncio da paz constituíam a própria
evangelização, exatamente como ouvira do Evangelho. Na prática de
Francisco, a evangelização inclui necessariamente o anúncio da paz. Em
outras palavras: não se evangeliza, se não se anuncia a paz.
O Anônimo Perusino não narra o episódio da escuta do texto de Lc 10
na Porciúncula. Mas não desconhece que este texto fazia parte da origem
da vocação de Francisco, pois ele coloca, logo após o despojamento de
Francisco diante de Pedro Bernardone, a ressonância do texto do envio:
“O Senhor conduziu-o pelo caminho reto e estreito, porque ele não quis
possuir nem ouro nem prata, nem dinheiro, nem qualquer outra coisa (cf.
Mt 10,9), mas seguiu o seu Senhor na humildade, na pobreza e na
simplicidade de seu coração. Andando de pés descalços, vestia-se com um
hábito desprezível, cingia-se com um cinto também muito barato” (3).
Embora o despojamento de ouro e prata, etc., fizesse parte de um
texto dinâmico de envio a evangelizar, o AP prefere lê-lo na ótica da
pobreza, desvinculando a pobreza do quadro da evangelização.
2. Evolução do conceito: da prática da pregação a um conceito mais amplo de evangelização
No entusiasmo de quem descobriu o sentido de sua vida, Francisco começa a
pregar. Evangelizar significa inicialmente para Francisco dirigir-se ao
povo, anunciar a palavra de Deus, lembrando sempre que o reino que ele
quer anunciar é reino de paz. Por isso, insiste na saudação da paz. Como
a saudação da paz fazia parte do envio dos discípulos, assim também ela
faz parte de seu próprio envio.
Evangelização é, portanto, inicialmente compreendida como uma
atividade ad extra, um dirigir-se ao povo. Dentro desta compreensão,
podemos interpretar os dois ou três envios ou missões dos primeiros
companheiros, antes mesmo da aprovação da regra:
a) Quando eles eram quatro: Francisco e Egídio foram à Marca de
Ancona, os outros dois ficaram (4). Francisco não pregava ao povo, mas
apenas exortava os homens e mulheres a fazerem penitências (5).
b) Quando eram seis: O envio é proposto como sua vocação:
“Consideremos, irmãos caríssimos, a nossa vocação, porque Deus
misericordiosamente nos chamou não somente para a nossa utilidade, mas
também para a utilidade e salvação de muitos” (6). Eles anunciavam a paz
em suas pregações(7).
c) Quando eram oito: No envio constava explicitamente o anúncio da
paz: “Ide, caríssimos, dois a dois pelas diversas partes do mundo,
anunciando aos homens a paz!” (8).
Um conceito de evangelização, que inicialmente se identificava com a
atividade ad extra de pregar o reino, a penitência e a paz, começa muito
cedo a alargar-se em compreensão. O anúncio exigia uma coerência de
vida por parte dos evangelizadores. Quem prega o Evangelho é convocado à
coerência, isto é, a colocar em prática, a fazer a experiência, a viver
os valores que proclama com a voz.
É digno de nota que, após as primeiras missões evangelizadoras,
quando se tratava de colocar por escrito numa regra essa vocação dada
pelo Senhor, a vocação dos frades menores não foi expressa em termos de
pregação ou de anúncio do Evangelho ou do reino, mas em termos de vida,
de viver. Deste modo, já na primitiva regra apresentada a Inocêncio III
para a aprovação, a vocação dos frades menores vem assim explicitada:
Esta é a vida do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo que Frei
Francisco pediu ao senhor papa … (9). Evangelizar é pregar e proclamar,
mas é também fundamentalmente viver os valores evangélicos proclamados.
Assim, é dentro da compreensão da coerência entre a proclamação e a
vida que se entende a exortação de Francisco, quando enviava os frades
em missão evangelizadora: “Assim como proclamais a paz com a boca, assim
em maior medida tenhais em vossos corações a paz, para que ninguém por
meio de vós seja provocado à ira e ao escândalo; mas todos, por meio de
vossa paz e mansidão, sejam novamente chamados à paz e à benignidade”
(10).
Detalhes preciosos da Regra mostram a compreensão ampla do conceito
de evangelização. Ao tratar do modo como devem os irmãos ir pelo mundo,
Francisco não ensina o que devem pregar, mas o modo de comportar-se que
convém ao evangelizador: “Aconselho, todavia, admoesto e exorto a meus
irmãos no Senhor Jesus Cristo que, quando vão pelo mundo, não discutam
nem alterquem com palavras (cf. Tm 2,14) nem julguem os outros; mas
sejam mansos, pacíficos e modestos, brandos e humildes, falando a todos
honestamente, como convém. E não devem andar a cavalo, a não ser que
sejam obrigados por manifesta necessidade ou por enfermidade. Em
qualquer casa em que entrarem, digam primeiramente: Paz a esta casa (cf.
Lc 10,5). E, segundo o santo Evangelho, seja-lhes permitido comer de
todos os alimentos que forem colocados diante deles (cf. Lc 10,8)” (11).
Não nos passe despercebida a ressonância do texto do envio (Lc 10)
que está sempre como pano de fundo da vocação dos frades menores.
Presente e indissociável sempre a proclamação da paz, porque não existe
uma evangelização sem a proposta de paz. Aliás, todas as atitudes que
Francisco propõe são a própria proclamação da paz com o modo de viver.
Em outras palavras, a vida dos irmãos devia ser o anúncio vivo do
Evangelho da paz: em formulação negativa: não discutam nem alterquem nem
julguem os outros; em formulação positiva: sejam mansos, pacíficos e
modestos, brandos e humildes, falando a todos honestamente como convém …
e digam “paz a esta casa”.
No confronto com as autoridades eclesiásticas constituídas, os novos
evangelizadores (os que proclamam o Evangelho com a palavra e com a
vida) só serão verdadeiros evangelizadores, se mantiverem a paz no
coração:
“E embora quisesse que [seus] filhos vivessem a paz com todos os
homens (cf. Rm 12,18) e se apresentassem a todos como pequeninos, no
entanto, ensinou-os pela palavra e mostrou pelo exemplo a serem
humildes, mormente com relação aos clérigos. Dizia, pois: ‘Fomos
enviados em auxílio (cf. Sl 69,2; Dn 10,13) dos clérigos para a salvação
das almas (cf. 1 Pd 1,9) … Sabei, irmãos – disse -, que a Deus é muito
agradável o fruto das almas (cf. Sb 3,13) e que isto se pode conseguir
melhor com a paz do que com a discórdia dos clérigos … Se fordes filhos
da paz (cf. Lc 10,6), havereis de lucrar o clero e o povo para o Senhor,
o que o Senhor julga mais agradável do que lucrar só o povo, [depois de
ter] escandalizado o c1ero” (12).
No fundo desta exortação está a seguinte compreensão: a evangelização
(pela palavra ou pela vida) somente será eficaz, se for, ao mesmo
tempo, anúncio de paz. Uma evangelização desvinculada da paz não é
evangelização. A verdadeira evangelização é necessariamente proposta de
paz.
Igualmente precioso é o modo de os irmãos irem para o meio dos
sarracenos e de outros que não têm a fé cristã. Francisco prescreve dois
modos de evangelização: a evangelização pelo modo de vida (a própria
vida é o anúncio) e a evangelização pelo anúncio explícito (pela
palavra). Novamente as exortações de Francisco para o primeiro modo de
evangelização são propostas de paz (e toda proposta de paz é proposta do
reino): “não litiguem nem porfiem, mas sejam submissos a toda criatura
humana por causa de Deus e confessem que são cristãos” (13).
O fato de confessarem que são cristãos é, freqüentes vezes,
interpretado como coragem de apresentar-se ao martírio, pois o fato de
confessar-se cristão entre os sarracenos, devido à inimizade existente
entre cristãos e sarracenos, era interpretado como uma oferta do pescoço
à espada (14). Não vemos, porém, esta interpretação como o sentido
primeiro. O confessar-se cristão seria, segundo nossa maneira de
interpretar, uma forma de dizer: “Estes valores que estamos vivendo são
simplesmente o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo”. Portanto, no
confessar-se cristão, está contido fundamentalmente um modo de
evangelizar. Apenas secundariamente, poderia ter o sentido de disposição
ao martírio.
Percebe-se, então, que o conceito de evangelização, inicialmente
interpretado por pregação, evolui para uma compreensão mais abrangente
que envolve não apenas o anúncio pela palavra (pregação), mas também a
proclamação pelo modo evangélico de viver. A paz, por identificar-se com
a própria evangelização, também não é somente algo que pregamos ou
propomos aos outros, mas antes um valor evangélico que coerentemente
procuramos cultivar no coração.
3. Tratados de paz: formas concretas de evangelização (força política da evangelização)
A crônica de um frade dominicano chamado Tomás de Spalato traz, entre
seus relatos, um episódio muito significativo para compreendermos a
evangelização de Francisco. Corria o ano de 1222. Tomás de Spalato,
estudante que morava no Studium em Bolonha, teve oportunidade de ouvir
uma pregação de Francisco. Limitemo-nos a citar apenas o que no momento
nos interessa. Assim ele escreveu:
“Na verdade, todo o tema de suas palavras visava a extinguir as
inimizades e a reformar os pactos de paz. O seu hábito era sujo, a
pessoa desprezível, e a face sem beleza; mas Deus conferiu tanta
eficácia às suas palavras que muitas famílias dos nobres, entre as quais
o furor desumano de antigas inimizades eclodira em muito derramamento
de sangue, foram levadas de novo ao pacto de paz” (15).
A primeira coisa que se deduz deste breve relato é que a preocupação
de Francisco pela paz era uma constante em sua vida. O anúncio da paz
não era algo dos inícios de sua vocação, mas acompanhava a evangelização
de Francisco ao longo de sua história. E nem podia ser diferente, pois
anunciar a paz para ele era anunciar o reino e vice-versa. De novo,
convém salientar que a paz não é apenas um tema entre outros da
evangelização, mas é a própria evangelização. E a evangelização só é
verdadeira evangelização, se anunciar e visar à construção da paz.
Outro elemento digno de nota é que as palavras de Francisco visavam
“extinguir as inimizades e reformar os pactos de paz”. Tratava-se de um
problema muito concreto, o das inimizades e guerras entre famílias.
Evangelizar não é abstração, mas é confrontar-se com problemas
concretos, é inserir-se em contextos históricos e aí apresentar o
Evangelho como opção ou alternativa para situações que parecem
insolúveis. Nesse confronto e inserção, evangelização significa deixar
que o Evangelho ilumine as pessoas e coisas envolvidas. O Evangelho é
que ilumina tudo e convoca todos à conversão (e à paz).
Após a pregação de Francisco, “muitas famílias foram levadas de novo
ao pacto de paz”. Deu-se, portanto, uma transformação na vida da cidade.
Embora a evangelização não se identifique com nenhuma política
partidária, no entanto, ela é profundamente política, tem forte
incidência na vida e na organização da sociedade, pois ela apresenta aos
cidadãos os valores fundamentais da pessoa humana, valores que muitas
vezes estão encobertos, como pequena brasa sob uma montanha de cinzas.
Evangelizar é explicitar os valores humanos escondidos no fundo dos
corações, é fazer brilhar os pequenos focos do Evangelho presentes, mas
não percebidos, no íntimo de cada um em forma de desejo, de anseio, de
sonho, de utopia, de esperança.
As Fontes Franciscanas apresentam outros episódios em que Francisco,
exercendo sua tarefa de evangelizador, provocava os habitantes das
cidades ao pacto de paz. Além de Bolonha, são conhecidos os casos de
Arezzo (16) e de Sena (17). Mas parece que os pactos entre famílias eram
constantes. A Legenda dos Três Companheiros apresenta-os como um
fenômeno generalizado:
“Portanto, o homem de Deus, Francisco, subitamente transbordante do
espírito dos profetas [ ... ], segundo a palavra profética, anunciava a
paz, pregava a salvação (cf. Is 52,7), e muitos, que por viverem na
discórdia estavam distantes da salvação de Cristo, pelas salutares
admoestações dele se coligavam [em aliança de paz]” (18).
A evangelização (o Evangelho) tem, portanto, força política para
transformar a realidade, mesmo que ela não se identifique com a política
partidária. Fique bem claro que, ao fazermos esta afirmação não
queremos despolitizá-la; pelo contrário, queremos apontar exatamente
onde reside sua força política transformadora.
4. A visita ao Sultão: em vez de proselitismo, uma proposta
de paz (tolerância religiosa, tolerância com o diferente, tolerância com
outras culturas)
Em vários textos, desde a Primeira Vida escrita por Tomás de Celano (1
Cel) até Fioretti, encontramos o relato da ida de Francisco ao Sultão
dos sarracenos (l9). Além desses textos, existe documentação em outros
textos, que não estão incluídos nas nossas Fontes Franciscanas e
Clarianas: Bernardo Tesoureiro, História de Eráclio, Crônica da
Dinamarca. Portanto, parece fora de dúvida que Francisco tenha ido, de
fato, fazer uma visita ao Sultão. Além de algumas diferenças de detalhes
nas diversas redações, o enfoque também varia. Por exemplo, na redação
de Atos e de Fioretti, a introdução de uma mulher que tentava seduzir
Francisco destaca a castidade heróica de Francisco. A recusa de
presentes é uma constante. Todos afirmam também que Francisco se dirigiu
ao Sultão para convertê-lo à fé cristã. Por isso, no final das
narrativas permanece um sabor amargo de fracasso, um certo
desapontamento. Alguns tentam disfarçar esse fracasso, acrescentando que
o Sultão pediu que Francisco rezasse por ele para que ele abraçasse a
verdadeira fé. Outros acrescentam até a conversão milagrosa do sultão
por intercessão de Francisco (20).
Preferimos uma outra leitura dos fatos. Pelo que deduzimos da
evangelização desenvolvida por Francisco, que levava o povo em guerra a
pactos de paz, a intenção dele ao visitar o Sultão deve ter tido essa
finalidade concreta: Uma proposta de paz que ele fazia em nome não dos
reis do Ocidente Cristão, nem mesmo do papa, mas em nome do Evangelho.
Evangelização, sem dúvida, mas de maneira muito concreta, na forma de
uma proposta de paz. Sem intenções de proselitismo. Sem a intenção
primeira do martírio, embora Francisco tivesse a coragem de enfrentar
também o martírio.
De sua parte, os biógrafos contemporâneos de Francisco não podiam ter
outra ótica, a não ser a do proselitismo e a do martírio. Converter o
Sultão, converter os muçulmanos ao cristianismo, ou melhor, ao regime de
cristandade, teria sido a grande meta de Francisco. Quanto ao desejo do
martírio, criou-se uma mentalidade entre os cristãos de que o
sarraceno, além de ser o inimigo da fé, era também o ser mais cruel
sobre a face da terra, pronto a degolar o cristão pelo simples fato de
ser cristão. Na mente do povo cristão criou-se uma verdadeira neurose de
guerra contra os sarracenos. Matar o sarraceno era ser herói de Cristo;
morrer nas mãos do sarraceno era ser martirizado por Cristo. Toda a
Europa respirava este ar.
Mas as circunstâncias levam-nos a deduzir que a meta concreta que
Francisco queria atingir era um tratado de paz, como já havia feito em
algumas cidades e entre algumas facções por onde ele passava. O que deve
ter causado grande admiração em Francisco era o fato de toda a
cristandade estar envolvida numa guerra. E ninguém, nem da Igreja nem
dos governos da Europa, propunha uma alternativa. Parafraseando o que
Francisco disse a respeito da inimizade entre o bispo e o podestà de
Assis, ele deve ter pensado a respeito da inimizade entre cristãos e
sarracenos: “É grande vergonha para nós, servos de Deus, que ninguém se
intrometa para tratar da paz e concórdia com eles” (21).
A atitude de não proselitismo comporta acima de tudo tolerância para
com outras religiões. No fundo, é aceitar que o outro seja diferente,
pense diferentemente e possa agir diferentemente. Ser diferente não é
defeito. O fato de ser diferente não coloca ninguém sobre ou sob os
outros. Isto é a base para qualquer diálogo, ecumênico, inter-religioso,
intercultural. O diálogo cria laços.
Consta em todos os relatos que o Sultão e Francisco estreitaram entre si laços de estima, respeito e amizade.
5. A saudação da paz (fraternidade) – construir a paz a partir das pequenas coisas
No Testamento, Francisco faz alusão à saudação da paz como algo revelado
por Deus. Note-se que a saudação da paz já consta no texto do envio. A
Compilação de Assis narra um episódio interessante:
” … nos primórdios da religião, quando o bem-aventurado Francisco andava
com um irmão que foi um dos doze primeiros irmãos, esse irmão saudava
os homens e as mulheres pelo caminho e aqueles que estavam nos campos,
dizendo: ‘O Senhor vos dê a paz’ (cf. Nm 6,26; 2Ts 3,16). E porque os
homens ainda não haviam ouvido tal tipo de saudação ser dita por
religioso algum, disto muito se admiravam. Mais ainda, alguns homens,
quase com indignação, lhes diziam: ‘o que lhe significa esta saudação
(cf. Lc 1,29)?’. De modo que aquele irmão começou a envergonhar-se muito
disso. Por isso, disse ao bem-aventurado Francisco: ‘Deixa-me, irmão,
dizer outra saudação’. Disse-lhe o bem-aventurado Francisco: ‘Deixa-os
falarem, porque não percebem o que vem de Deus (cf. 1 Cor 2,14). Mas não
te envergonhes disso, porque te digo, irmão, que os nobres e príncipes
deste mundo ainda mostrarão reverência a ti e aos outros irmãos por este
gênero de saudação” (22).
Francisco está convencido de que a saudação da paz ainda vai fazer
com que os príncipes e nobres deste mundo fiquem admirados. Ele crê na
grandeza e eficácia desta saudação. No início, aquele irmão não entendeu
bem o sentido dela, sentiu vergonha de usá-la, pediu para trocar a
saudação. Francisco insistiu nela.
E nós nos perguntamos: “Por que essa insistência de Francisco na pequena saudação?”.
Embora Francisco não tivesse tido os conhecimentos da Psicologia
moderna desenvolvida a partir de Freud com a “descoberta” do
inconsciente, ele mostra uma intuição psicológica muito profunda. Ele
conhece o valor formativo da repetição. A repetição age no inconsciente.
A repetição de uma palavra ou gesto acaba criando o chamado hábito que,
por sua vez, vai como que fornecendo seiva para a vida espiritual. Isto
acaba criando uma mentalidade, um modo de pensar, um modo de agir, um
modo de ser. Talvez Francisco não tivesse conhecido o provérbio como nós
o formulamos hoje: “Água mole em pedra dura tanto bate até que fura”.
Mas o dinamismo é o mesmo. É a força das coisas pequenas que acabam
criando algo grandioso. Usando positivamente a comparação da gota de
água, é como as gotas da chuva que nas cavernas formam o estalagmite e o
estalactite, criando verdadeiras obras de arte, não de repente num
piscar de olhos, mas ao longo dos dias, dos anos e dos séculos. Desse
modo, a saudação é capaz de estabelecer relações de amizade, de
fraternidade. Começamos a pensar como amigos daqueles que nos desejam
paz. Sentimo-nos irmãos deles. E, se nos sentimos amigos e irmãos, a paz
já começa a ser construída.
Talvez um erro nosso, de homens modernos, seja o de não acreditarmos
na força das coisas pequenas. Precisamos logo de coisas grandiosas, de
preferência de coisas ou de eventos que resultem em sucesso
internacional. O dia-a-dia, o tijolo por tijolo (como na construção das
grandes catedrais) não nos atrai. Somos mais atraídos a fazer belíssimos
discursos sobre a paz em nível nacional e internacional, mas não
queremos aceitar que a vivência quotidiana da fraternidade é como a
areia que entra na argamassa da construção da paz. Bastaria para nós,
franciscanos e franciscanas, viver a fraternidade, para sermos
construtores da paz. A fraternidade é profundamente evangelizadora. E se
é evangelizadora, é proposta de paz para os outros, é convite para que
todos vivam em paz, como irmãos. Isso é o reino.
Mas o homem moderno não acredita que viver em fraternidade possa ter
força. O moderno precisa de atividades, preferentemente de atividades ad
extra. Ele pressupõe que, quando fala de fraternidade ou de paz, ela já
as possui, por isso trata de levá-las aos outros que não as possuem. Aí
entra Francisco com sua pedagogia: “Assim como proc1amais a paz com a
boca, assim em maior medida a tenhais nos vossos corações”.
Não é por acaso que Francisco insista e dê preferência à
evangelização pelo modo de vida. E Francisco era o próprio Evangelho
vivo.
6. A paz entre o bispo e o podestà (dois poderes: minoridade, respeito para com o espaço do outro)
É muito conhecida a contenda entre o bispo e o podestà de Assis. As
razões desta contenda não nos são dadas pelas fontes. Sabe-se, no
entanto, que se criou uma situação de divisão na cidade: de um lado, os
que apoiavam o bispo; de outro lado, os que apoiavam o podestà. Uma
miniatura da situação da Itália dividida entre guelfos (partidários do
papa) e gibelinos (partidários do imperador alemão). E cada um dos
oponentes usou suas próprias armas:
“… o que então era bispo de Assis excomungou o podestà de Assis; pois
que, indignado contra ele, o que era podestà mandou apregoar [com voz]
forte e cuidadosamente pela cidade de Assis que nenhum homem lhe
vendesse ou dele comprasse ou com ele fizesse contrato; e assim, muito
se odiavam um ao outro” (23).
Embora não saibamos as causas desta inimizade ou ódio, podemos
deduzir que outra coisa não pode ter sido, senão o conflito ou luta
entre dois poderes. Não se trata de inimizade entre cristão e sarraceno,
mas de ódio entre dois cristãos (24). O texto do Evangelho: “Os chefes
das nações as mantêm sob seu poder, e os grandes, sob seu domínio. Não
deve ser assim entre vós” (Mt 20,25-26) parece não ter penetrado na alma
desses dois chefes cristãos.
É difícil lidar com o poder. E a maneira que Cristo propõe, uma
maneira alternativa, ainda não foi suficientemente assimilada por muitos
chefes cristãos (de Estado) nem por muitos chefes religiosos cristãos. A
cada dia, podemos constatar a veracidade do dito: “O poder e o dinheiro
corrompem” .
Ao saber disso, Francisco toma uma atitude inusitada: compõe mais uma
estrofe do Cântico do Irmão Sol sobre o perdão e envia dois
companheiros para cantá-la diante do bispo e do podestà. O resultado é
conhecido de todos: o perdão mútuo, a volta à antiga amizade.
Francisco utiliza a música e a poesia como meios de evangelização.
Instrumentos tão frágeis para fazer curvar-se a rigidez de dois homens
de poder. O que é frágil Deus utiliza para confundir o que é forte, diz
São Paulo na Carta aos Coríntios (cf. 1Cor 1,27). Esta é a força da
minoridade.
Fazer-se menor é proposta evangélica de paz. Evangelizar e construir a
paz pela minoridade é caminho natural, pois os caminhos de Deus são
diferentes dos caminhos dos homens. A força de Deus manifesta-se no que é
pequeno, na fragilidade, no ser menor. Muitas vezes, pensamos, como o
profeta Elias, que a força da evangelização está na grandiosidade dos
planos e atividades. O profeta Elias não viu o Senhor no vento forte e
violento que raspava as montanhas e fendia os rochedos, nem no
terremoto, nem no fogo. Quando passou a brisa suave, Elias cobriu o
rosto, porque Deus estava naquele sopro tênue (cf. 1 Rs 19,11-13).
Assim, quem quiser ser forte ou o maior, faça-se o mais frágil e o
menor. Esta é a pedagogia de Deus: “Assim deve ser entre vós”.
A música e a poesia de Francisco são os exemplos desta minoridade.
Quem pensaria que uma música e uma estrofe de poesia pudessem levar os
dois gigantes do poder a curvar-se um diante do outro, a chorar e a
pedir perdão e a perdoar-se mutuamente, a abraçar-se como dois irmãos?
7. O lobo de Gubbio: parábola sobre a paz (o homem reconciliado, da utopia, do reino)
Uma outra historieta muito conhecida de todos é a do lobo de Gubbio
(25). Embora alguns queiram dar historicidade a este episódio (em Gubbio
se conta que numa escavação fora encontrada a ossada de um lobo muito
grande), a nosso ver, ela deve ser compreendida sob o gênero literário
que se chama parábola. Parábola significa que o que é narrado não
implica necessariamente em ter acontecido historicamente, mas que contém
elementos reais, contém uma verdade que se quer transmitir. Uma leitura
deste episódio exige, portanto, um processo de despojamento do texto:
despir o texto daquilo que é fictício, da sua roupagem literária, para
se chegar ao real, à verdade que a roupagem literária quer comunicar.
Um primeiro elemento a ser destacado é que Francisco vai ao encontro
do lobo (26) sem armas. A presença do lobo causou um estado permanente
de medo e pânico entre a população, de maneira que todos andavam armados
como se fossem para a guerra. Francisco despoja-se das armas, como que a
dizer: “Não se promove a paz com as armas”. Se alguém deve propor a
paz, deve ir desarmado ao encontro do outro, ao encontro do diferente.
Esta atitude causou grande admiração ao povo.
Segundo elemento: tendo-se encontrado com o lobo, este veio a
Francisco com a boca aberta em sinal de agressividade. Francisco
conversa com ele mansamente, pacificamente, sem agressão e sem
violência, como menor. Diante da minoridade de Francisco, acalma-se a
ferocidade do lobo. Percebendo que Francisco não tinha armas, que era
menor, o lobo não viu sentido para sua agressividade, pois, na maioria
das vezes, a agressividade é apenas resposta a uma agressão gratuita
anteriormente recebida.
Terceiro elemento: Francisco dialoga com o lobo. O diálogo
restabelece relações rompidas. E diálogo, é bom notar, é estrada de duas
mãos. Francisco falava com o lobo, e o lobo falava com Francisco
através de sinais (linguagem que lhe era própria). Diálogo inclui,
portanto, esforço por compreender a linguagem do outro. Nesse diálogo,
Francisco compreendeu que a situação de fome levava o lobo a matar. Ele
leu isto na própria situação do lobo. Compreendeu que muita maldade é
cometida, não porque a pessoa seja intrinsecamente má, mas por
circunstâncias adversas. Mais ainda: nesse diálogo, Francisco não deixou
de recriminar os erros do lobo e de exigir dele uma mudança de atitude,
como também depois ele vai exigir o mesmo do povo de Gubbio.
Quarto elemento: Tratado de paz no qual se celebra o compromisso de
ambas as partes. Este elemento retrata a maneira concreta de Francisco
evangelizar. Evangelizar é encamar Evangelho em situações concretas.
Como a situação era de guerras entre cidades e conflitos entre famílias,
sua evangelização tinha como finalidade palpável os pactos de paz. Este
elemento está muito bem retratado na parábola do lobo de Gubbio.
Quinto e último elemento de nossa consideração: A parábola apresenta
Francisco como uma figura utópica do homem reconciliado com toda a
criação. Retomando a utopia de Isaías, Francisco é apresentado como a
criança que brinca com o animal selvagem, do cordeiro que come com o
lobo. Aliás, esta interpretação de Francisco como homem reconciliado já
se encontra na primeira biografia, em que Tomás de Celano assim se
expressa: “Enfim, chamava todas as criaturas com o nome de irmão e, de
maneira eminente e não experimentada por outros, percebia com agudeza as
coisas ocultas do coração das criaturas, como quem já tivesse alcançado
a liberdade gloriosa dos filhos de Deus” (27).
Portanto, Francisco é interpretado como homem reconciliado, homem da
utopia, homem do reino de Deus. A parábola tem esta significação como
pano de fundo.
8. OFS: uma política da paz (a decisão pessoal que transforma a sociedade)
O movimento franciscano desdobrou-se rapidamente em três Ordens. Dentre
as três Ordens, a Ordem Terceira, hoje conhecida como OFS, tem uma
maneira especial de evangelizar: levar o carisma franciscano a todos os
ambientes seculares. A secularidade é que dá a nota marcante e
distintiva dessa Ordem.
Lamentavelmente, com a OFS aconteceu algo que não devia ter
acontecido em termos de engajamento na vida secular. Ela perdeu a força
de Ordem e tomou-se, em muitos lugares, uma associação de pessoas
piedosas. Como Ordem, ela teve um papel muito importante nos primórdios.
Ela foi uma das forças motoras de construção da paz. De fato, a
história mostra que a decisão dos chamados terceiros ou terciários de
não portar armas, uma decisão de nível pessoal, acabou por provocar uma
mudança radical na mentalidade bélica da Idade Média. Quando cada um
decide fazer a sua parte, por mais pequenina que possa parecer, algo na
sociedade muda. De novo, trata-se de acreditar no pequeno, no frágil.
Uma atitude frágil acrescentada a outra atitude frágil pode criar aos
poucos um modo de pensar diferente. Tanto isto é verdade sobre a OFS que
temos documentos em que os príncipes escreviam aos papas, pedindo que
obrigasse os terceiros (terciários) a portarem armas novamente. Eles
perceberam que estava acontecendo um verdadeiro desarmamento dos
cidadãos. Desarmamento, gesto concreto de construção da paz; decisão
pessoal que ajudou a criar toda uma mentalidade de paz.
A OFS, como Ordem franciscana cuja característica é a inserção na
secularidade, deveria estar mais presente na vida política e social. E a
partir daí ser uma presença evangelizadora e anunciadora da paz. E como
é necessária uma presença evangelizadora nesses setores da sociedade!
Seria um modo de estar constantemente denunciando a corrupção, o descaso
pelo bem comum, o desapreço pela vida dos cidadãos, mormente pela vida
dos pobres.
A política partidária é lugar da OFS, pois ela é secular. E sua
missão é evangelizar os partidos em vista de um serviço mais evangélico à
sociedade, preferencialmente aos pobres.
Conclusão
Santo Antônio afirmava que os pregadores (evangelizadores) são os pés da
Igreja. Esperar-se-ia que eles fossem a boca da Igreja. Possivelmente,
Antônio se baseou no texto de Isaías: “Como são belos, sobre os montes,
os pés do mensageiro que anuncia a paz, do que proclama boas novas e
anuncia a salvação, do que diz a Sião: O teu Deus reina” (Is 52,7; cf.
Na 2,1). Então, surge a pergunta: Por que os pés e não a boca? Por que
também Isaías faz referência aos pés do mensageiro? Porque, para que
alguém seja evangelizador, é necessário usar os pés. São os pés que lhe
permitem percorrer todos os cantos e recantos das cidades, aldeias e
vilas. Aquele que evangeliza, anunciando a paz, não pode estar estático
(stabilitas loci), com os pés amarrados, parado num só lugar, mas ir ao
encontro das pessoas para transmitir-lhes a mensagem. Não pode esperar
que as pessoas venham ao seu encontro, mas ir ao encontro delas. Ser
evangelizador (anunciador da paz) implica dinamismo, mobilidade,
itinerância (28). Elementos básicos do modo de ser franciscano – segundo
nosso parecer – a serem profeticamente resgatados. Na linha da
itinerância e da mobilidade dos pés estaria a direção da busca de novas
formas de presença evangelizadora por parte dos seguidores de Francisco.
FONTE : http://www.franciscanos.org.br/
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