Por todos os caminhos se espalhou a fama de que Assis tinha um novo Santo e nessa mesma noite o vale da Úmbria se viu entrecortado de riachos de luz. A explanada da Porciúncula tornou-se um lago de fogo. E nela ferviam as preces entremeadas com canções. Chorava-se a ausência de Francisco, ao mesmo tempo que se celebrava o Santo.
Sem conter os soluços, mas com devoção profunda, a Irmã Jacoba de Settesoli ajudada por outros irmãos vestiu o cadáver com a mortalha que havia trazido. Apesar de sua palidez mortal, o rosto de Francisco não denunciava essa ausência interior que têm os cadáveres. Suas mãos, agora sem vendas e cruzadas sobre o peito, deixavam ver a cavidade arroxeada das chagas e umas protuberâncias negras semelhantes a cravos.
Pelo meio dia, o cortejo se pôs a caminho, em direção a Assis, mas desta vez, pela estrada de São Damião. Mais que um desfile fúnebre, aquilo parecia a primeira procissão do Santo. Ali, na primeira capela que ele havia restaurado, e à sombra do Crucifixo que iluminara sua existência, foi colocado o féretro durante longo tempo, mas não tanto quanto queriam Clara e suas irmãs, que rodeavam o cadáver, entre pranto e orações. Beijavam suas feridas e permaneceram a seu lado até que a comitiva continuou a procissão.
O templo de São Jorge tornou-se pequeno para abrigar a multidão. Muitos recordaram que ali que o conheceram menino, quando recebia as primeiras lições e que ali mesmo fez sua primeira pregação aos assistentes. Ali, celebraram-se os funerais e ali deixaram enterrado o seu corpo até que, quatro anos depois, foi trasladado para a Basílica construída em sua honra.
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