1 de outubro de 2012

A COLHEITA ESTÁ PRONTA




Antes de terminar setembro, soube Francisco que já estava próximo o fim e expressou seu desejo de ser transferido para a Porciúncula. Queria morrer onde fora seu verdadeiro berço. Os irmãos organizaram o traslado. Desta vez, o cortejo era mais numeroso, mas sempre escoltado por cavaleiros armados. 
O outono já havia começado: nos vinhedos havia cachos de uvaas maduras e, nos trigais, se iniciava a ceifadura dos campos. Sabia muito bem que era a estação das colheitas. 
Quando passaram perto do leprosário, o Pobrezinho fez deter-se a comitiva e pediu que o colocassem de frente para Assis. Levaram-no sobre uma liteira. Fazendo um grande esforço, endireitou seu corpo como pode e estendeu suas ossudas mãos para a cidade recostada na colina, com seus tetos desiguais, suas muralhas e suas torres. Deteve-se por um momento mudo, como contemplando em seu interior o que seus olhos apagados não lhe permitiam ver. Logo disse, pausadamente, com uma voz carregada de nostalgia. "Abençoada sejas pelo Senhor, cidade querida..., que em ti sempre more a bondade e a misericórdia do Senhor... que em teus jardins floresça a paz e por tuas telhas destile o perdão". 
O cortejo prosseguiu lentamente. Só se escutava o ruído das pisadas e o esvoaçar das aves. 
Quando chegaram à Porciúncula, o acomodaram em uma cabana que ficava a uns poucos metros da capela que ele mesmo havia restaurado com suas mãos, havia quase vinte anos. 

PARA REFLETIR:

 A despedida que Francisco fez à sua cidade respondeu a um sentimentalismo ou a um compromisso real com seu povo? Por que?
     De que forma podes expressar hoje teu compromisso com teu povo?

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