3 de outubro de 2012

O CANTOR DA MORTE

 
Todos decidiram que o melhor lugar para hospedar o pobre de Assis era o Palácio do Bispo. Ali, poderia ser o melhor atendido e ficaria mais seguro. 
Ao chegar a esse lugar trouxeram-lhe outro médico, um amigo seu de Arezzo, chamado Bom João. A hidropisia, o novo mal de Francisco, estava avançando progressivamente. Não só já tinha inchações nos pés como também começava a inchar-se o estômago. Em tom muito cordial, quase jocoso, Francisco perguntou-lhe por sua enfermidade e pediu-lhe que dissesse a verdade sobre as consequências da mesma. 
"Morrerás logo! - disse-lhe o médico - pois tua doença não tem cura". 
A reação do doente não se fez esperar. Levantou-se os braços, exclamou com gozo. "Bem vinda irmã morte!" Depois mandou chamar os cantores para entoar com ele a nova estrofe que havia composto:
"Louvado sejas, meu Senhor, por nossa irmã a morte corporal, da qual nenhum homem vivente pode escapar. Ai daqueles que morrerem em pecado mortal! Bem-aventurados os que encontras cumprindo tua santíssima vontade, pois a segunda morte não lhes fará mal". 
Várias vezes, entoavam o Hino das Criaturas junto ao leito do enfermo. Francisco, com sua voz apagada, os seguia muito alegre. Nem a todos os irmãos parecia certo que um santo cantasse em seu leito de morte; isso o afastava dos esquemas da santidade. As pessoas das vizinhanças já começavam a dar-se conta e poderiam escandalizar-se. Por isso pediram ao Irmão Elias que ele, como ministro que era, o fizesse calar. "Deixe-me por favor, irmão - pediu-lhe humildemente Francisco - pois com o canto aguento muitas dores e celebro a chegada do meu Deus".

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