Pequena teologia da VR na Igreja “neste lugar”
Nossa “janela” se abre para a diocese, para a Igreja local e para os religiosos que aí vivem. Alphonse Borras, sacerdote diocesano de Liège, Bélgica, canonista, escreveu um calmo e sólido artigo em torno redimensionamento da vida religiosa. Aborda de modo particular o papel da vida consagrada na Igreja local (Vie Consacrée, n. 71, 1999). Abrindo a “janela”, tentamos ver o sentido da vida religiosa na Igreja local. Como nos situamos na Igreja local? Como o bispo do lugar vê nossa presença? Que expressão temos na Igreja que está “neste lugar?”
Vivemos em Igreja. Somos cristãos, de modo especial da Igreja local. A Igreja é obra do Espírito. Ali encontramos variedade de vocações e serviços sempre tendendo à unidade. Felizes as dioceses que contam com casas de religiosos e religiosas que vivem a alegria de sua consagração. Sua presença enriquece a vida da diocese. Sua ausência constitui sempre um vazio.
No seio da Igreja local, entre os batizados, algumas pessoas decidem “viver somente para Deus”.
Enquanto todos os batizados, conjuntamente, dão o testemunho da Boa Nova na história dos homens, no intuito de levá-los à plena realização, ou seja o “Reino de Deus” alguns são chamados pela Igreja para se “gastarem” no anúncio do Evangelho, na edificação das comunidades e na realização da missão.
Há ainda batizados que optam por “fazer profissão” dos conselhos evangélicos que podem explicitar a radicalidade do evangelho e a urgência do Reino. Eles lembram que tudo passa. Antecipam livremente uma tríplice morte das quais ninguém escapa: o abandono das riquezas, da esposa (esposo) e dos filhos, bem como todo “domínio” sobre seu destino. Apontam, desta forma, para a força da ressurreição, a acolhida de uma plenitude de vida, a felicidade de serem amados de graça. Lembram a todos, serenamente, que Deus pode cumular plenamente uma existência. “Deus basta”. Aceitam, assim, o alegre risco de uma vida totalmente entregue ao serviço de Deus, “ao louvor de sua glória”. Um vida “religiosa”.
Cristo, através do Espírito, quis visitar nossa humanidade, tomar parte em nossa condição humana para que pudéssemos participar de sua divindade e abrir a história dos homens à sua Aliança. A opção dos religiosos por Deus constitui precisamente uma consagração particular que tem íntimas raízes na consagração batismal e a exprime com mais plenitude.
Pode-se, assim, mensurar a tríplice dimensão profética, fraterna e escatológica da vida consagrada: ela é anúncio radical da Boa Nova, ela é realização humilde, mas resoluta, da fraternidade e prelibação do que esperamos, permanecendo vigilantes na fé. Se os fiéis cristãos leigos são convocados a testemunhar a graça do batismo e que o ministério dos bispos, com a ajuda dos padres e dos diáconos, apoia esse testemunho e ajuda a se enraizar no Cristo e a se abrir ao Espírito Santo, a vida consagrada incita os cristãos e seus pastores a levar a sério o Evangelho: a vida consagrada, por sua existência na Igreja se coloca a serviço da consagração da vida de todos os fiéis leigos e clérigos.
Desde o período da implantação da Igreja, a vida consagrada foi tida como um dos critérios para se tenha uma Igreja local de pleno direito. Além disso, sua presença enriquece a catolicidade da Igreja realizada em um lugar. Não somente ela a completa, mas serve-lhe de estímulo. Na diocese, ela exerce o papel de catalizadora da santidade de todos os batizados, inclusive pastores e ministros. Presidindo a Igreja em um lugar, o bispo diocesano protegerá e promoverá esse dom. Isso ajudará a revigorar a santidade do povo de quem ele tem o encargo pastoral. Será solícito em fazer com que seja conhecida e apreciada a vida consagrada junto aos fiéis e ao clero. Ressaltará a importância dos institutos de vida consagrada presentes em sua diocese. Fará de sorte que as obras desses institutos sejam colocadas a serviço do crescimento dos fiéis. Por isso, um “diálogo cordial e aberto” entre o bispo diocesano e os superiores dos institutos de vida consagrada será a garantia de uma boa inserção na diocese e de colaboração fecunda a serviço do Evangelho.
Considerações
• A diocese, a Igreja que está em um lugar, presidida pelo bispo só tem a ganhar com a presença estimulada, vigorosa, clara e expressiva de homens e mulheres límpidos, chamados religiosos;
• Desde sempre a Igreja se tornou mais rica com os carismas dos religiosos e das religiosas, pessoas para as quais Deus basta;
• Sua sadia distância do poder, do dinheiro, do protagonismo e da tirania da eficiência faz dos religiosos seres simples que embelezam uma diocese e sejam profetas de um mundo que está para vir;
• Entre todos os carismas acolhidos pela Igreja parece importante que a vida dos contemplativos, nesse mundo de correria, superficialidade e ruídos é importante para dar vigor à Igreja diocesana.
Questionamento:
1. Até que ponto, nós religiosos, sentimos que estamos revigorando a Igreja local?
2. Até que ponto os bispos estão, de fato, clamando por uma presença dos religiosos em suas dioceses?
Frei Almir Ribeiro Guimarães
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