20 de julho de 2012

OS ÍCONES E AS IMAGENS - Final

Por Frei Vitório Mazzuco Fº.

O olho chega a sua oferenda sacrifical, de onde nascera uma segunda visão, a sobrenatural, que sublima, substituindo a simples visão corporal. É o olho interior, o olho do coração, o olhar dos místicos que percebem a luz divina.

Os valores mais propriamente religiosos e místicos do olho são numerosos e variados. A palavra ‘ayin’, olho, ocorrem 675 vezes no Antigo Testamento e 137 vezes no Novo Testamento o que marca a riqueza de suas significações simbólicas. Ele designa primeiro o órgão da visão modelado pelo Criador para o bem do homem e da mulher, pois “é uma alegria para o olho ver o sol”. Mas o olho é também um órgão do conhecimento que a Escritura
associa sempre a qualidade de sábio e prudente: assim Balaão, o adivinho cujo olho esta fechado para as realidades terrestres que o cerca, mas que se abre para o escondido e o invisível desde momento que ele encontrou o Todo Poderoso (Nm 25,25). O Senhor faz dele um vidente cego usando assim o tema de uma visão superior a visão corporal normal. Simbolicamente, o olho designa a consciência do humano que Javé abre para o conhecimento de sua lei.

Para o mundo bíblico Deus vê tudo, Ele é o Deus ao qual nada escapa. Sua soberania transcendente tem como característica a onividência. Seu olho divino é justiceiro, diante dele o justo poderá encontrar graça; é um olho paternal, o da providência divina. Mas qualquer que seja seu desejo o humano não tem a possibilidade de ver a Deus face a face, pois ninguém pode ver Javé sem morrer (Sl 42,3).

Diz o apostolo João: ”ninguém jamais viu a Deus”, mas Jesus prometeu àqueles que têm o coração puro verão a Deus (MT 5,8). Essa bem aventurança faz do olho o símbolo da pureza interior. A primeira pregação cristã insiste em mostrar a oposição entre os olhos da carne e os olhos de espírito, a seguir a física precedendo simbolicamente a abertura dos olhos do coração (At 9,18). A função do Filho é revelar seu Pai: “quem me viu, vê o Pai” disse Jesus a Filipe, mas no fim dos tempos a plena visão será dada a todos e “os olhos de todos contemplarão a glória de Deus assim como ele é” (Jo 14,9; 1Jo 3,2). O olho é a luz interior no humano iluminado, e o protótipo desse humano de luz é o “olho de luz”.

Em numerosas tradições filosóficas religiosas esse interior permite acesso a sabedoria. O olho da alma ofuscado pela luz da inteligência, se fixa na pura claridade; a alma vê então a luz que se encontra no interior de seu próprio olhar.

O olho interior só é órgão de sabedoria porque é capaz da própria experiência de Deus. Toda revelação se apresenta como um véu que se retira diante dos olhos para se ver a visão beatifica e a contemplação. Olho do coração é um tema freqüente na literatura espiritual e na arte. Não pode nem ver nem discernir seu objeto sem a luz, assim também a alma não pode contemplar a Deus sem a luz da fé, a única que pode abrir os olhos do coração. Para os padres do deserto o “homem inteiro, deve se tornar olho”.

No século X, Filóteo o Sinaíta, escrevia: “nos encontraremos a pérola do Reino dos Céus dentro do coração, se primeiro purificarmos os olhos de nosso espírito”.

EXTRAÍDO DE: http://carismafranciscano.blogspot.com.br/

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