24 de julho de 2012

Abeirando-nos do mistério da vocação - Animação e promoção vocacional para a OFS



Animação e promoção vocacional para a OFS

1. Quando fazemos um retrospecto de nossa vida humana, cristã e franciscana, damo-nos conta de que um fator decisivo e cheio de consequências para todo o tempo de nosso existir foi o do discernimento de nossa vocação. Mais do que isso: da aceitação da vocação, da resposta a um apelo que nos veio do mistério da vida e do mistério de Deus. Nem sempre conseguimos verbalizar os acontecimentos e encadear dos fatos que nos levaram a ser cristãos, optar pelo casamento ou ingressarmos no caminho franciscano. Pensamos na escolha do casamento. Um rapaz se encontra com um mulher… uma mulher se detém num determinado homem e, aos poucos, optam pelo casamento. Um rapaz e uma moça, um homem e uma mulher, na sua juventude fazem profundas experiências de Deus e desejam seguir o Senhor e querem ser cristãos. Convivendo com frades, morando perto de ambientes franciscanos, uns e outros, num determinado momento da vida, quisemos seguir os passos de Cristo à maneira de Francisco. Penso aqui mais particularmente nos membros da terceira Ordem secular. E para podemos falar de vocação, num sentido mais pleno e espiritual, dizemos a vocação é um dom de Deus. Por isso nos abeiramos com imenso respeito do tema da vocação e é a partir deste pano de fundo que abordamos a questão da animação e promoção vocacional para a OFS.

2. Uma das mais constantes preocupações dos responsáveis pela Ordem dos Frades Menores e da TOR, bem como dos conselhos das Fraternidades Seculares é a de promover e descobrir novas vocações. Muitas Fraternidades seculares estão reduzidas a poucos irmãos e irmãs, muito deles envelhecidos, dependendo do carinho do serviço dos enfermos e idosos. Há Fraternidades seculares que há muitos anos não têm iniciantes e formandos. Diante desse quadro insiste-se muito na promoção vocacional. O que é justo. Realizam-se aqui e ali encontros ditos vocacionais com franciscanos das diversas Ordens, constando de palestras, momentos cênicos, cantos, DVSs. As Fraternidades locais ou os Distritos mostram-se contentes quando podem realizar tais encontros. Por mais necessária e oportuna que seja a propaganda vocacional, em termos de encontros, deve-se dizer que a problemática é mais profunda e bem mais ampla. Com toda evidência essa “promoção” vocacional é um começo. Deve ser feita. Mas precisa se realizar com bom senso, critério e discernimento. Não basta apenas momentaneamente emocionar as pessoas. Será preciso um tempo para tocar-lhes as fibras mais íntimas.

3. Como pano de fundo de nossa reflexão sirva este texto do Documento de Aparecida: “O caminho de formação do seguidor de Jesus lança suas raízes na pessoa e no convite pessoal de Jesus Cristo, que chama os seus pelo nome e estes o seguem porque lhe conhecem a voz. O Senhor despertava as aspirações profundas de seus discípulos e os atraía a si maravilhados. O seguimento é fruto de uma fascinação que responde ao desejo de realização humana, ao desejo de vida plena. O discípulo é alguém apaixonado por Cristo a quem reconhece como o mestre que o conduz e acompanha” (n. 277). Em outras palavras, a vocação é um momento único e fundamental daquele que tem nos olhos o olhar de quem o ama. A vocação não nasce de efeitos sonoros e visuais midiáticos. Ela é um dom de Deus que pode ser acolhido ou não, no tempo, na humildade, no aconselhamento, na verdade.

4. Vivemos uma época de profundas transformações. Aqui e agora, não é o lugar de detalhá-las. Muitas paróquias estão se esvaziando. A pastoral faz o que pode. Conserva quanto pode. Há um desconforto de muitos que foram batizados na Igreja. Não sabem se creem, ou simplesmente se fazem parte de um “grupo” de Cristo, sem afinidades profundas e nem senso de pertença. Boa parte dos jovens faz sua caminhada sem uma convivência com Cristo. Nossas Provincias franciscanas do mundo desaparecem com fusões e redimensionamentos. Alguns de nossos contemporâneos manifestam desejo de busca do espiritual. Essa busca do espiritual por parte de muitos não seria o espaço de apresentar a vocação franciscana secular às pessoas?

5. Estamos todos convencidos de que é urgente, necessário, indispensável trabalhar as vocações que já existem. Não podemos irmãos e os que fizeram sua profissão devem encontrar a santidade, “a perfeição na caridade”. Não podem ser membros passivos de uma instituição na qual não encontram alma. Em outras palavras, se trata de revigorar os irmãos e irmãos e a vida franciscana, de modo particular, em nossas Fraternidades locais. O trabalhar as vocações já existentes consiste em fazer que todos valorizem o chamamento, a vocação. Não estamos na Ordem para cumprir um pequeno número de formalidades e de obrigações, mas porque fomos chamados. Os Conselhos locais sabem muito bem o que significa trabalhar as vocações que existem: verificar se os irmãos mergulham na oração, se já estão com alguns ou muitos traços do Cristo pobre e servo em seus rostos, se eles gostam de percorrer as Fontes Franciscanas e delas se impregnar, se andam preocupados em conviver franciscanamente, se aprenderam a ter uma intimidade pessoal com o Senhor, se aceitam com generosidade os serviços propostos pela Fraternidade e pela Igreja. Trata-se da qualidade da reunião, das propostas oferecidas ao crescimento dos irmãos, do despertar neles o senso missionário, dos empenhos da formação permanente. A melhor propaganda vocacional é uma Fraternidade que é animada pelo espírito de Cristo e que caminha pelas trilhas da espiritualidade franciscana.

6. Têm vocação para a Ordem Franciscana Secular as pessoas que querem (e precisam) fugir da mesmice e superficialidade. Importante prestar atenção ao que se passa à nossa volta. Michel Hubaut, franciscano menor francês, no prefácio de uma de suas recentes publicações assim se exprime: “No seio da mutação sociocultural emerge uma formidável expectativa espiritual, uma busca de autêntica espiritualidade, capaz de dar um sentido aos nossos compromissos humanos, de oferecer uma razão e uma maneira de viver, de reencontrar o laço que existe entre a fé cristã e a vida de todos os dias. Aprender a passar incessantemente do Evangelho para a vida e da vida para o Evangelho” (Chemins d’intériorité avec saint François, Ed. Franciscaines, Paris, 2012, p. 13). Por isso, nas reuniões da Fraternidade e nos encontros vocacionais esta plataforma precisa ser sugerida. As melhores vocações para a Ordem Franciscana Secular serão a de pessoas que estão cansadas de viver uma fé “tranquila” demais, pacata, sem fogo, feita de práticas mecânicas. Ressalto esse pensamento de Michel Hubaut: precisamos reencontrar o laço que une a fé cristã e a vida de todos os dias.

7. E estas pessoas sentem que estão sendo chamadas a dar um sentido aos seus dias, enquanto é tempo. Novamente Michel Hubaut: “Francisco nos convida não a formar guetos para iniciados, mas lugares de encontro, de diálogo e trocas fraternas onde cada um é acolhido como pessoa única, um dom de Deus; espaços fraternos onde cada um é convidado a dar o melhor de si mesmo, onde as pessoas se ajudam mutuamente a viver as exigências do Evangelho, a estarem sempre atentas aos “leprosos”, aos pobres e aos mais desamparados de nossos tempos” (p. 16). Assim, nossas Fraternidades serão espaços atraentes. Os que nelas penetram ganham a certeza de estarem sendo chamados porque ali se vive esse ir da vida para o Evangelho e do Evangelho para a vida. Na primeira e na terceira Ordem necessário criar o novo para que surjam vocações para esses tempos. Nos primeiros tempos de participação na Fraternidade essas pessoas deverão poder experimentar uma proximidade com Cristo.

8. As vocações para nossa Ordem são as que desejam espaço e meios para cultivar uma amizade pessoal com Cristo. No empenho de animar nossas Fraternidades haverá esse cuidado de levar os que estão e os que querem estar a terem suculentas experiências de Cristo: audição e leitura dos Evangelhos, participação consciente da eucaristia quase diária, esses encontros marcados com o Cristo “despedaçado”. As pessoas que podem querer entrar na Ordem são aquelas que a partir de um retiro, de um sofrimento, de um franciscano transparente querem subir o Tabor para ver o rosto transfigurado de Cristo, para dar-lhe um copo de água fresca num dia de sol e vesti-los depois da guerras e fracassos quando chegam cobertos de farrapos. E andar pelo mundo sendo instrumentos de paz. Não pode deixar de existir o “eis-me aqui, enviai-me”.

9. Vivemos um mundo de perplexidades. As instituições claudicam. Os cristãos se questionam. As certezas desvanecem. Os costumes parecem vazios. As tradições ou nos colocam num imobilismo ou as rejeitamos. De repente, uns e outros, nos sentimos perdidos e, ao mesmo, temos saudade do Mistério. As Fraternidades da Ordem Franciscana Secular serão espaços onde as pessoas possam se reconhecer nesse mundo que corre e se reconstruírem como pessoa, cristão, missionário e franciscano. Se nossas Fraternidades locais e regionais forem espaços de reconstituição do tecido esgarçado não teremos dificuldade em ter vocações. Não é lícito fazer promoção vocacional sem que nossas Fraternidades, sobretudo na formação, tenham condições de ajudar as pessoas a reconhecerem onde estão e a reconstruir sua biografia.

10. Seria importante que cada Fraternidade fizesse um sério exame a respeito de suas relações com a JUFRA. Esta, por sua vez, só tem interesse em viver com as Fraternidades. Deus nos ajude a ter Fraternidades de JUFRA onde os jovens possam discernir sua vocação.

11. Chegando a este ponto do texto a impressão que tenho é que nada foi dito, nada foi acrescentado de novo e, ao mesmo tempo, nas linhas e entrelinhas tudo foi dito. Tomo a liberdade de transcrever mais uma vez Michel Hubaut. O texto é um pouco longo mas diz o que é ser um leigo franciscano:

“ Um leigo franciscano é um cristão que sente um apelo de Deus para seguir Cristo, à maneira de Francisco de Assis por descobrir que sente uma cumplicidade espiritual com as intuições evangélicas de Francisco. É um cristão que sente uma convocação do Espírito para viver hoje o carisma franciscano necessário à vida da Igreja e do mundo. É um cristão que quer que façam parte de sua vida tempos gratuitos de oração para encontrar-se com Deus e Cristo e dar sentido à sua vida.

É um cristão que deseja fazer o aprendizado da vida fraterna com irmãos e irmãs, padres, religiosos, leigos casados ou solteiros, em reciprocidade vital.

É um cristão que tem necessidade do apoio de uma fraternidade de irmãos e de irmãs para poder deitar raízes e amadurecer seus diferentes compromissos na luta contra toda forma de injustiça, de violência, de racismo, de falta de respeito pela vida, pelas pessoas e pela criação para poder concretizar sua paixão pela paz.

É um cristão cuja alegria manifesta que o Evangelho é caminho de humanização porque Francisco faz com que o Evangelho cante e mostra que o seguimento de Cristo leva à verdadeira felicidade” (p. 18).

Sim, vamos com toda urgência organizar encontros, congressos, jornais de propaganda e promoção vocacional. Não esqueceremos, contudo, que a vocação é um mistério que vem do Mistério.

Questionamentos

1. O que mais chama sua atenção na leitura deste texto?
2. Que razoes daremos à uma pessoa para que ela pense em ser terceira franciscana?
3. Como trabalhar as vocações que existem, ou seja, como anima-las vocacionalmente?
4. O que significa fugir da mesmice, da mediocridade, da superficialidade na vida cristã e franciscana?Link


FREI ALMIR GUIMARÃES

EXTRAÍDO DE : http://www.franciscanos.com.br/n/

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