2 de outubro de 2014

“Uma sede que não acaba”


Reflexão de Frei Almir Ribeiro Guimarães sobre o Sagrado Coração de Jesus para a primeira sexta-feira do mês.

 Que busque a Fonte aquele que tem sede


          Somos cristãos, discípulos daquele que chamamos de Mestre, de Vida, de Caminho.  Encontramo-lo  no meio da vida, nas horas serenas de silêncio, no convívio com os irmãos, no sacrário de nossas consciências,  no rosto dos leprosos, no lusco-fusco de nossos tabernáculos e quando a vida  nos convida a carregar parte de sua cruz.   Esse  Jesus vai se desenhando cada vez mais nitidamente aos nossos  olhos nos momentos em deixamos cair as máscaras e rejeitamos  os esquemas de fuga.  Há momentos  em que uma sede  do Senhor queima mais fortemente nossa garganta.  Queremos a água que vem do Senhor, água de seu amor, água que é o Espírito derramado em nossas entranhas e fecundando nossos sonhos e nutrindo nossa esperança.  Que a admirável página  de São Columbano abade  (sec. VII), nesta sexta-feira do Coração do Redentor,  seja veemente convite para  nos achegarmos à  Fonte.

“Irmãos caríssimos,  prestai ouvidos  ao que vamos dizer como algo necessário.  Contentai a sede de vossas almas nas águas da fonte divina, sobre a qual desejamos falar, mas  não a extingais;  bebei, mas não vos sacieis.  Chama-nos a si a fonte viva, a fonte da vida e diz:  “Quem tem sede venha a mim e beba” (Jo 7,37).

Entendei o que bebeis.  Diga-vos  Jeremias,  diga-vos a própria fonte:  Abandonaram-me a mim,  fonte de água viva,  diz o  Senhor  (Jr 2, 13).  O próprio  Senhor,  nosso Deus,  Jesus  Cristo é a fonte da vida;  por isso nos convida a irmos a ele, à fonte, para bebermos.  Bebe-o quem ama;  bebe quem se sacia com a palavra de Deus, que muito ama,  muito deseja:  bebe quem arde de amor pela sabedoria.

Vede donde mana a fonte:  do mesmo lugar onde desceu o pão. Pão e fonte são o mesmo, o filho único,  nosso  Deus,  o Cristo  Senhor, de quem devemos ter sempre fome. Comemo-lo amando; devoramo-lo desejando e, no entanto, famintos, desejemo-lo ainda.  Da  mesma forma qual água de uma fonte;  bebamo-lo sempre pela plenitude do desejo e deleitemo-nos com a suavidade de sua particular doçura.

Pois é doce e suave o Senhor;  por mais que o comamos e bebamos, estamos sempre  sedentos e famintos, porque nosso alimento e bebida nunca se podem tomar e beber totalmente;  tomando não se consome, bebido não acaba, pois nosso pão é eterno, nossa fonte perene,  nossa fonte é doce.  Eis a razão pela qual diz o Profeta:  Vós que tendes sede, ide à fonte  (Is 55,1).  É fonte dos sedentos, não dos saciados.  Por isso chama a si sedentos, que em outro lugar  declara felizes, aqueles que nunca bebem  bastante,  mas quanto mais sorvem, tanto mais têm sede.

Irmãos, é justo que a fonte da sabedoria, o  Verbo de Deus nas alturas  (Eclo 1,5 Vulg.),  sempre  seja desejada, buscada e amada por nós;  estão escondidos, segundo a palavra do Apóstolo,  todos os tesouros da sabedoria e da ciência  (Cl 2,3),  e  clama quem tem sede a deles tomar.

Se tens sede,  bebe da fonte da vida;   se tens fome, come o  pão da vida.  Felizes os que têm fome deste pão e sede desta fonte.  Sempre comendo e sempre bebendo,  ainda desejam comer e beber. Porque é imensamente doce  aquilo que sempre se saboreia e sempre se deseja mais.  O rei profeta já dizia: Saboreai e vede,  quão doce, quão suave  é o Senhor   (Sl 33,9).

Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM

Nenhum comentário:

Postar um comentário